Não sei se os leitores desse blog notaram, mas o texto postado ontem é francamente incoerente com vários outros já colocados nesse espaço. Acabei me colocando contra um ponto de vista do filósofo Luís Felipe Pondé, que escreveu em sua coluna da Folha de São Paulo de 04 de Junho algo que vinha de encontro ao que foi muito defendido nesse blog: na época das superfícies e do superficial, só o confronto com nossos monstros interiores vai nos transformar. Pois resolvi entrar em mais uma polêmica inexistente e discordar (mesmo concordando). O nosso paradigma, sobretudo nos últimos vinte anos, mudou profundamente com o advento da Internet. Estamos hoje tangidos pelas subjetividades em rede, pela Economia em rede, pela sobrevivência que depende da Interconexão. Tratei um caso de um senhor que apresentava uma Depressão de moderada para grave, que com o tempo tornou-se de grave para gravíssima, que tinha adoecido junto com a sua empresa, um “family business” que estava indo para as cucuias. Chegou a oferecer o negócio de graça, ninguém quis pegar, tamanha a ideia que aquilo era um abacaxi. Quando ele finalmente respondeu ao tratamento, teve uma ideia luminosa: deu, de graça, uma participação na empresa para um rapaz que ele percebeu de grande visão, que estava criando o comércio eletrônico (em Português, o “E-Business”) para os seus produtos. O rapaz abraçou a causa, fez um investimento preferencial e maciço no site e nas aparições do Google, alavancando as vendas e uma recuperação impressionante da empresa.
Luis Felipe Pondé escreveu sobre uma grande descoberta de Freud. Temos um ser que habita nossas redes neurais, uma psique profunda, que muitas vezes comanda mais as nossas ações do que gostaríamos. Revelar o que ficou recalcado é fundamental para que a Consciência se liberte de seus entraves, de seus bloqueios. Concordo e mais do que isso, pratico isso todo dia na minha Clínica. O que eu escrevi ontem é que as pessoas estão atarantadas com esse mundo em rede, sofrendo de um mal inteiramente novo de nossa Pósmodernidade: a Desconexão. Diante da sensação de estar “online” o tempo todo, as pessoas estão mais recolhidas, mais isoladas do que talvez qualquer outra época da História, sobretudo nos centros urbanos. O que eu gostaria de concluir é que as pessoas deitam nos divãs com outra e profunda demanda em nossos tempos cibernéticos: elas não querem mais revelar o seu Eu profundo, pelo menos não dá para buscar as cenas de infância ou as dores de Alma antes de definir para si uma Identidade no meio de toda essa Despersonalização cibernética que vivemos. As pessoas precisam recuperar a sua Humanidade antes de se perderem, de vez, nas identidades virtuais. Recuperando o Ego e a capacidade de estabelecer conexões com o mundo externo e Interno, aí vamos fazer um trabalho que passe pelo Profundo e pela Superfície.
Freud e Jung devem estar rindo de nossa cara.
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Acho que agora realmente ficou muito mais claro o que você quis dizer. As pessoas perdem a própria identidade e sendo assim perdem a capacidade de interagir com os outros. Sem a própria identidade não dá para interagir e para integrar com outras identidades (outras pessoas). Ou pior, sem reconhecer a minha identidade eu não reconheço a identidade dos outros.
ResponderExcluirBjos,
Lúcia
É isso aí!!! A força e insistência em se manter "conectado", acaba por nos desconectar. Acompanhar o mundo flúido da pós modernidade pode trazer este viés, de realmente em nada se prender. Há quem consiga se conectar na fluidez. Invejável. Mas para nós, pobres mortais ainda viciados em pilastras morais (as marteladas para derrubá-las não são naturais, demandam um PUTA esforço), a falta de "plugs" perturba...
ResponderExcluirAhh... Pondé é um narcisista azedo =/