sábado, 9 de junho de 2012

Infernos (Im) Pessoais

A fiel leitora desse blog, Lúcia, fez uma sugestão de que eu comentasse o artigo do filósofo Luis Felipe Pondé, publicado na Folha de São Paulo de 04 de Junho, “O Meu Inferno Mais Íntimo”. Imagino que ela se lembrou de mim nos parágrafos finais do texto de Pondé, quando ele afirma que, ao contrário de Sartre, o Inferno não são “Os Outros”, mas, antes, o Inferno somos Nós, sendo o verdadeiro confronto, o confronto com os Demônios que nos habitam. No final do texto, ele mencionou um conto hassídico, quando foi possível a um homem justo visitar o Inferno, onde todos gritavam “Eu, eu, eu...”
Uma fórmula infalível de sofrimento é a fixação no Ego. Só há uma desgraça maior do que se fixar no Ego: é não ter Ego nenhum. Os neodarwinianos gastam muito latim dizendo que temos genes e patrimônios genéticos egoístas, que querem mais a reprodução e a predominância. Nossa cultura valoriza essa postura de predomínio, a glória do macho dominante. Grupos de neoprimatas, que chamamos de humanos, em situação de perigo, produzem dois tipos de reação adaptativa: o enfrentamento e a colaboração. Os machos, em situação de perigo, ficam nervosos, irritadiços e prontos para atacar ou fugir. As fêmeas reagem de outra forma: estabelecem alianças, protegem as crias, estabelecem e multiplicam os canais de comunicação. Homens brigam, mulheres falam, por isso que os machos da espécie fazem qualquer coisa para fugir de uma Discussão de Relacionamento.
Nossa civilização macha e darwiniana valoriza o sucesso, a dominância, o Poder. O pior é que as mulheres se contaminaram com esse sistema falocêntrico e também disputam os tronos de “Poderosa”, “Maravilhosa”, “Absoluta”. Mulheres turbinadas e homens em carros turbinados, são as imagens da Civilização Autoestima.
No Sábado passado eu falei sobre a Memória Celular e as estruturas em rede que determinam a comunicação entre as células e a resposta imune. Não há uma célula macha nem outra turbinada e gostosa para comandar o espetáculo. As células atuam numa rede infinita de comunicação e reação orquestrada, quase simultânea e em cadeia. O novo paradigma, inaugurado com com as novas tecnologias digitais, é o das estruturas em rede, em que prevalecer e colaborar tem a mesma importância. Não adianta glorificar o talento de um Messi se ele não tiver os gênios Iniesta e Xavi se multiplicando em campo, atuando de forma coordenada, múltipla, orgânica.
Poderia responder ao Pondé que o Inferno, hoje em dia, não são Os Outros, nem Nós mesmos. O Inferno é perder o contato. O Inferno é o Isolamento. Não adianta mais ajudar as pessoas a enfrentarem os seus demônios internos. Temos que ajudá-las a fazer contato com o mundo Interno e Externo, sem perder a capacidade de comunicação e Integração. As pessoas isoladas em seus medos e visões estanques são candidatas ao Inferno Íntimo.

Um comentário:

  1. Olá Spinelli,

    Obrigada pela preocupação e dedicação de ter comentado o texto que sugeri.
    Realmente, quando eu li, lembrei de você, pois é uma questão que você sempre aborda: a preocupação das pessoas com elas mesmas, encarceradas dentro delas mesmas (olhando o próprio umbigo).
    Mas realmente, acho que você foi mais além: as pessas não tem nem mesmo um ego para interagir, para fazer contatos com os outros, para a integração.
    Obrigada pela reflexão!
    Lúcia

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