Outro dia um paciente veio fazer uma fofoca e me atiçar contra a terapeuta de sua filha, uma lacaniana muito composta. Quando ele mencionou que fazia Psicoterapia Junguiana, a colega se empertigou no sofá e observou que Jung era assim um cara místico... Eu não passei recibo e comentei que me recusava a discutir essa "acusação" sem cerveja. Ele passou o recado, todo pimpão. Eu sei, eu sei. Que coisa feia. Entrar nessa rivalidade clubística entre linhas, isso é coisa de um junguiano sem compostura. O fato é que não houve mais nenhum comentário da moça.
Uma das construções teóricas de Jung que lhe valem o título de "místico" é a Sincronicidade, ou Lei das Coincidências Significativas. Jung começou a notar pequenos eventos onde fatos ou acontecimentos sem relação de causalidade entre si aconteciam em determinado momento, reforçando uma impressão ou uma idéia. Uma vez no hospital um colega me enunciou esse princípio de forma muito clara e interessante. Era logo um Ortopedista, que não acreditam em nada que não esteja no Raio X. Havia um senhorzinho que trabalhava no prédio da Faculdade de Medicina e era muito querido dos alunos. Um belo dia ele caiu de uma escada e teve uma fratura. Diagnosticada a fratura, optou-se por fazer uma cirurgia para colocar um pino no local. A cirurgia foi desmarcada três vezes, por razões diferentes: numa o cirurgião bateu o carro, na outra o paciente pegou uma Pneumonia, na terceira a Pressão dele subiu antes da Anestesia, a cirurgia foi suspensa. O colega optou por fazer um tratamento mais conservador e não cirúrgico. A justificativa científica é que "alguém lá encima não estava querendo essa cirurgia". Claro que o tratamento conservador era uma boa opção e, mais claro ainda, os três eventos que impediram a cirurgia não tiveram nenhuma relação causal entre si. Entretanto, colocando as três coincidências na balança, o médico "sentiu" que era melhor optar por outro caminho. Para a Ciência, meu colega é um supersticioso e o terapeuta que leva as coincidências em conta é um místico ou um charlatão (pode não parecer, mas para a Ciência, são sinônimos).
Toda essa introdução é para dar aos secadores do Corinthians, dentre os quais eu alegremente me incluo, uma má notícia: a Sincronicidade, chamada pelos locutores esportivos de "sorte de campeão" está do lado do Timão. Explico. No gol do Boca, a torcida pode dar graças pelo fato da bola ter entrado. O centroavante do Boca, carinhosamente alcunhado de El Tanque cabeceou para fazer o gol. Chicão meteu a mão na bola no desespero. A bola bateu na trave e voltou para outro jogador estufar as redes. Se ele não tivesse feito o gol, seria pênalti e expulsão. Como o Boca levou vantagem, Chicão tomou um cartão amarelo e o Corinthians não ficou com um jogador a menos,que, naquela altura, seria catastrófico. Tite colocou o Romarinho, um garoto de 21 anos recém chegado do Bragantino, para tentar empatar o jogo. No primeiro toque que deu na bola, Romarinho mandou-a para dentro do gol do Boca. Para finalizar, um jogador do Boca que acabara de entrar perdeu um gol debaixo da trave.
Lamento dizer, caros e solidários secadores: a Sincronicidade está do lado do Corinthians. isso não é nada bom.
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às vezes, quem sabem? vale a pena insistir. de outro ponto de vista, a sincronicidade pode ser outra.
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