Engraçado o jeito que a Medicina lida com o tema Stress (desculpem os puristas, vou o usar o termo em Inglês). Stress é uma espécie de curinga, como os vírus. Caiu o cabelo? É stress. A gripe não sara? É uma virose nova. O Intestino não funciona? Stress. Funciona demais? Stress.
Pois essa entidade fantasma é apontada como o sujeito oculto de quase todas as nossas mazelas. E é mesmo. Mas o que significa stress, ou estresse?
Há um sonho descrito em um maravilhoso livro de Edward Edinger, um importantíssimo autor junguiano. O paciente relatou um sonho em que o mundo estava acabando, com a morte de muitas pessoas. O paciente havia sido selecionado, no sonho, a fazer parte das pessoas que iriam reconstruir o mundo depois de toda a destruição apocalíptica. Ele notou que as pessoas selecionadas tinham a pressão um pouco alta. Os hipertensos graves e as pessoas de pressão baixa teriam a sua vida ceifada. O mundo seria reconstruído pelas pessoas com a pressão discretamente elevada.
O sonho está errado fisiologicamente. As pessoas com níveis pressóricos mais baixos vivem mais, isso é um consenso. Os sonhos, porém, não tem valor factual, apenas, mas tem valor simbólico e alguns deles, coletivo. O sonho antecipou a nossa pós modernidade, onde o mundo, como se conhecia, acabou. Os pressionados demais morrem mais cedo. Esse é um dos efeitos do Stress psíquico excessivo: a Medicina Chinesa diria que pessoas com excesso de Yang se desgastam mais rápido. A Medicina Ocidental diria que pessoas com hiperatividade adrenérgica também vão durar menos. Mas o sonho também fala do excesso às avessas: das pessoas apáticas demais ou que tem “muito pouca pressão”. Todo dia chegam nos consultórios as pessoas “com excesso de Yin”, ou pouca atividade adrenérgica, pessoas mornas em sua vida pessoal e fisiológica, que não conseguem fazer parte do jogo que chamamos de vida. Existe um termo científico para a nossa necessidade de Stress: a Hormese. Hormese é a resposta do organismo ao estresse moderado, aos desafios do dia a dia, aos exercícios físicos constantes e equilibrados, ao uso regular de nosso corpo e nossas capacidades mentais. Não é incomum ver as pessoas adoecerem quando se aposentam ou quando passam muito tempo desempregadas. A falta de atividades é um fator de estresse tão importante como o excesso. O sonho do paciente de Edinger falava sobre isso: o mundo será dos que mantiverem o tônus de atividade e de exploração do ambiente. Os que se acelerarem demais ou de menos vão ficar fora do jogo. Como já foi colocado no post de Domingo passado, a restrição energética aumenta a Hormese, enquanto que os excessos produzem a resposta em contrário. Uma das tragédias de nossa epidemia moderna de Obesidade é o efeito lentificador de Metabolismo que o excesso de oferta energética, como o excesso de açúcares em farináceos e doces (refrigerantes já são os novos vilões da Saúde Pública). O metabolismo lentificado gera dificuldade de resposta ao estresse de nosso organismo. Não é à toa que as Medicinas Orientais tratavam muitas doenças com o jejum, o que, para nossa civilização, é um absurdo.
Nossa Medicina e recomenda para todos os estressados algo como: “relaaaxa...”, vamos dar um Relax na beira da piscina, “você precisa relaxar mais...”. Esse conselho é fisiologicamente errado. Não adianta tentar ensinar um estressado a relaxar. Os sintomas ansiosos podem aumentar e muito se você manda o gordinho estressado fazer relaxamento e entoar mantras indianos. O sucesso do Pilates, que eu espero que não seja só uma moda, deriva provavelmente da junção da tonificação muscular com o relaxamento, um modelo mais adequado á nossa Hormese. Portanto é bom lembrar a todos que precisamos do Stress para nossa sobrevivência e desenvolvimento no dia a dia.
A falta de estressores também pode ser mortal, como o excesso.
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