quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Clínica Integrada

Na época da minha residêcia eu fazia parte de um saudoso grupo no Instituto de Psiquiatria do HC, o Grupo de Interconsultas. O nosso foco de estudo era o paciente internado em um Hospital Geral com um quadro psiquiátrico, prévio ou não à internação. O grupo era bem legal, mas o seu logotipo era um desenho de um corpo humano todo fragmentado, como um quebracabeças que não se junta. A idéia era que a gente iria colar aqueles pedaços, mas a imagem transmitia exatamente a impressão contrária. Nesses anos todos, posso afirmar que a Medicina e a Psiquiatria mais contribuíram para aumentar do que diminuir essa fragmentação.
Durante anos eu brincava (e desde Freud sabemos que as brincadeiras são sempre muito verdadeiras) que iria montar uma clínica de três andares: o primeiro andar seria uma academia, mas uma academia diferente. O trabalho físico serviria para criar e aumentar a consciência corporal. Professoras vestidas de Xuxa dando gritinhos e forçando os limites dos alunos seriam proibidas. Mais flexibilidade e menos hipertrofia, mais alongamento e menos repetição automática e algo maníaca de movimentos. Condicionamento gradativo, tonificação e manutenção, sem tentar bater recordes todos os dias e instrutores motivados gritando "Vamo' lá!"nos seus ouvidos.
No segundo andar, técnicas Mente-Corpo: Visualização Criativa, conhecida entre os junguianos como Imaginação Ativa, Yoga e Meditação. Expansão da Consciência e tranquilização de sintomas ansiosos e técnicas de copyng (não consigo traduzir essa palavra. Copyng seria algo como "lidar com") de estresse e estressores. O terceiro andar teria uma sala de Nutrição e mais do que isso, de Terapia Nutricional. O trabalho seria acompanhado e complementado pela Psicologia e Psicoterapias Junguiana e de EMDR. Se todas as salas falharem, aí sim o paciente finalmente entraria na sala do Psiquiatra.
Acho melhor não pedir financiamento para nenhum laboratório. Acho que eles não vão curtir o projeto, que foi desenhado para dar prejuízo para eles. Os medicamentos que eles produzem, em muitos casos, são maravilhosos, mas a ação combinada de técnicas e trabalhos humanos de baixo impacto tecnológico certamente diminuem ou mesmo anulam a necessidade de tratamento medicamentoso. Não só de medicamentos psiquiátricos, mas de todos os dinossauros da indústria, como remédios para o Colesterol, Diabetes, Hipertensão. Acho melhor não postar esse blog. Vou ser cortado do circuito dos laboratórios. Chega de chocolatinhos e outros brinquedos para o doutor.
Vamos fazer uma pequena aula para inaugurar esse projeto. Psiquiatria, Psicoterapia e Nutrição trabalhando integradas. Não temos três andares, e ainda falta muito para termos toda essa equipe. Mas já estou sentindo aquele desenho do homem fragmentado se juntando, aos poucos. Todos os pedaços.

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