domingo, 10 de abril de 2011

O Ato Gratuito

Ontem o Portal UOL publicou uma entrevista com o único amigo que Wellington Menezes, o assassino da escola em Realengo, teve em sua vida. O sujeito frequentava a Igreja Evangélica com Wellington e saíram de lá atritados com os dirigentes e o conselho de anciãos. O sujeito fez associações e interpretações suficientes para levá-lo a uma boa avaliação psiquiátrica: Wellington teria frequentado uma seita chamada "Os Treze Iluminados", daí a intenção de fazer treze vítimas. Era um fã do atentado de Onze de Setembro, daí a intenção de fazer o seu atentado no dia 07/04, pois sete mais quatro soma onze. Segundo o rapaz, que uma vizinha classificou como tão esquisito como o assassino de Realengo (se você quer uma boa fofoca, entreviste os vizinhos), Wellington destruiu o seu computador para apagar o seu laço com a seita misteriosa. O rapaz era vítima de perseguições e abusos junto com Wellington em seus tempos de Ensino Médio. Uma das razões do ato terrorista ter sido perpretado na escola foi o suposto bullyng que teria sofrido em sua passagem por lá.
A matéria, com esse rapaz pirado de dar com um cachorro morto na cabeça, mostra o desespero da mídia em tentar achar um culpado, um bode expiatório que nos devolva a paz. A possibilidade de um louco invadir a escola de nossos filhos e descarregar dois revólveres mais de 60 vezes é por demais aterrorizante. Tem que haver uma explicação. Encontramos na mídia toda uma gama de informações desencontradas, mexericos de vizinhos e palpiteiros de diversas áreas desfilando os seus achismos.
Wellington cujo corpo deve estar sendo constantemente manipulado por mãos impuras e vai ser sepultado sem o lençol branco imaculado que solicitou, apagou realmente todos os vestígios de motivo para o seu ato monstruoso. Nada de computador, diários ou de memória. É como se ele nunca tivesse existido. Esse é um dos horrores de nossa pós modernidade: a violência é um ato em si, não precisa de ideologia, não precisa de justificativa. Até a Al Qaeda tem uma ideologia que dá fundamento aos seus atentados. Talvez o mais assustador do ato psicótico de Wellington seja que aquilo foi apenas um ato em si de ódio contra o mundo, contra a inocência perdida, sem nenhuma justificativa, sem nenhuma ideologia. Na era da hipermídia, aparecer na televisão, ser objeto de atenção é uma febre mundial. Antigamente as pessoas eram famosas porque eram especiais, hoje são especiais porque são famosas. Ser um exBBB é o auge da fama.
O rapaz perturbado do Realengo, que destroçou a vida de muitas famílias, nos deu o arrepio na espinha da violência como um ato em si, que não necessita de um motivo.
Lembro de um filme de psicopata que eu gostava muito: "Seven", onde Morgan Freeman perseguia um assassino em série que matava pessoas inspirado nos sete pecados capitais: ira, inveja, preguiça, cobiça, gula, o assassino pegava pessoa que ao seu ver representavam esses pecados e os matava, com paciência e crueldade. Esse velho policial era acompanhado pelo jovem colega, interpretado por Brad Pitt. Todos vão ficando mexidos com a investigação. A cena que eu lembro o personagem do velho policial conversa com a jovem esposa do parceiro, que lhe segreda que está grávida mas não conseguia contar para o marido, obscecado por perseguir o tal psicopata. Ela não sabe se vai colocar uma nova vida nesse mundo em que vivemos. O velho tira olha para ela e diz: "Mime muito essa criança. Nunca deixe de estar atenta a ela." Parece que num mundo dominado pelos sete e vários outro tipos de pecado capital, a nossa única proteção é dar a nossa atenção aos mínimos detalhes da vida e do outro que está na nossa frente. Wellington atirou nos seus fantasmas. Acertou na nossa indiferença.

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