sexta-feira, 29 de abril de 2011

Núpcias Alquímicas

Cheguei atrasado hoje ao consultório por conta de ficar vendo a cerimônia do casamento de Kate e William. Hilária era a quantidade de palpiteiros na transmissão, em todos os canais. Analistas de moda, bispos anglicanos, cronistas e fofoqueiros em geral que abafavam o maravilhosos coro e suas músicas reverberando na Abadia de Westminster. Felizmente eu tenho TV a cabo e consegui ver a cerimônia pela BBC, deu até para ouvir a música sem precisar ouvir falar da família da noiva e sua empresa de festas e banquetes. Lógico que se ouve uma série de comentários azedos, sobretudo de intelectuais arrotando coisas sobre a sociedade do espetáculo e a monarquia pop. Confesso que cheguei a me emocionar com a força do ritual e a evocação da Tradição em todos os detalhes, do vestido da noiva à carruagem, culminando com o beijo na sacada, com certeza um must em todas as publicações tipo Revista Caras a partir de amanhã, nas bancas. Como terapeuta junguiano sou bastante ciente da importância dos ritos de passagem, a importância da Tradição que serve de referência às novas gerações, da emoção que um casamento Real provoca em pessoas que nada tem e nada terão a ver com a Monarquia Inglesa.
Nossa sociedade tecnicista transforma tudo em bem de consumo e em valor agregado, subtraindo do Símbolo a sua força expressiva. No programa do Pânico, no Domingo de Páscoa, os comediantes (?) do programa perguntavam para aquelas meninas de carroceria avantajada se sabiam o que se comemorava na Páscoa. As respostas se dividiram em "comemoramos o coelhinho da Páscoa" até "O nascimento de Jesus". Ter um bumbum malhado não garante um Cérebro malhado, meninas. A Páscoa não comemora o nascimento de Jesus. Nem do coelho Pernalonga.
Os símbolos perdendo o seu valor perdem também a sua função principal, que é a de serem fatores de estruturação da consciência.
O casamento de Kate e William, como já postei ontem, dá um alento à mitologia evocada por Príncipes e Princesas no imaginário coletivo. A Casa dos Windsor foi bastante maltratada nas últimas décadas por divórcios, crises de anorexia, a morte trágica e estranha de Lady Di, sem dúvida a mais midiática das princesas. A última imagem que ficou foi dos funerais de Diana, que já não era uma princesa mas foi levada pela mesma carruagem de cem anos usada na cerimônia de hoje. Uma imagem de profunda tristeza seguida, treze anos depois, pela imagem das núpcias.
O casamento da Príncipe herdeiro e a Princesa significa, nos símbolos alquímicos, muito estudados por Carl Jung, a união dos opostos, dos Princípios Masculino e Feminino formando a quintaessência, a substância da vida. Renovação, esperança, recomeço, retomada do caminho da transformação nesses tempos bicudos, onde todos parecem perder contato com a sua essência humana. Tempos de massacres escolares, pedófilos e criminosos virtuais. O símbolo do Casamento, das Núpcias alquímicas, renova a esperança e o orgulho em Ser Humano, nessa época em que estamos tão desumanizados. É muita responsabilidade para aqueles dois, recém saídos da adolescência.
O casamento alquímico é uma tarefa de todos, a união da alma e do corpo, do epírito e da matéria. os símbolos, os rituais, as tradições nos ajudam, quem sabe, a reavivá-los.

Nenhum comentário:

Postar um comentário