domingo, 3 de abril de 2011

Zumbis Farmacológicos

A Folha de hoje publicou hoje uma matéria sobre o que a repórter chamou de "Efeito Zumbi" dos medicamentos psiquiátricos. Para começar, colocou todos no mesmo balaio. Seguiu-se depois um lixo de referências inadequadas, lugares comuns tendenciosos e alhos com bugalhos com sintomas e efeitos colaterais. Vou passar a semana ouvindo falar nisso, a fantasia de que do Psiquiatra Malvado que a todos submete com seus medicamentos será reforçada na cabeça das pessoas. Posso até receber essa matéria em E-Mail-Denúncia contra a Máfia de Avental.
Ontem falei sobre os Zumbis Emocionais. Juro que não combinei nada com a Folha de São Paulo. Os zumbis representam bem a nossa época, as pessoas cada vez mais famintas e apáticas, procurando por sangue, ou seja, por emoção e por algum contato físico. Não era um quadro psiquiátrico em si, embora esteja na base de vários quadros psiquiátricos. As pessoas alternam o hiperestímulo com a apatia. Os leitores podem checar os outros posts, falo disso o tempo todo.
As informações dos profissionais entrevistados são desencontradas, novamente misturando alhos com bugalhos. Existe uma tendência a um uso abusivo, seja nas indicações seja nas doses, de medicamentos com ação mais ou menos sedativa no Sistema Nervoso Central. Um dos pacientes citados na matéria teve um quadro depressivo, provavelmente por Burn Out, um termo para um quadro de esgotamento por múltiplos e importantes estressores. O paciente em questão teve esse esgotamento por desadaptação ao seu trabalho, numa empresa de telemarketing. Ele não aguentava mais ser xingado e desrespeitado por clientes e chefia, causando um colapso. A médica deu cinco tipos de remédio, o paciente suspendeu o tratamento por conta própria. Um detalhe do ofício: quando o diagnóstico é bem feito e o tratamento bem estabelecido, não dá certo suspender o tratamento. Em algumas semanas ou meses, o resultado da retirada dos medicamentos é a recaída, muitas vezes de forma mais intensa do que no início do tratamento. Se ele retirou os medicamentos e ficou melhor, é porque o tratamento foi mal indicado e/ou aplicado.
Já cansei de ver pessoas com a vida devastada por sintomas depressivos, ou ansiosos ou de abuso de substância por tratamentos inadequados ou interrompidos antes dos resultados poderem sequer serem avaliados. Esse tipo de matéria levanta uma lebre correta de forma errada e imprecisa. Os medicamentos não devem ser usados desnecessária nem em doses maiores do que as suficientes. Os medicamentos tem efeitos colaterais, inclusive o de causar, em alguns casos, uma diminuição da resposta afetiva, que a matéria da Folha chama de Efeito Zumbi. Mas esses remédios salvam vidas e reconstróem famílias todo dia. As pessoas não imaginam como era lidar com essas doenças antes desses medicamentos estarem à nossa disposição. Não imaginam o alívio que um tratamento bem feito pode trazer a um paciente que está sofrendo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário