sábado, 2 de abril de 2011

Zumbis Emocionais

Antigamente eram as meninas do Tchan. Hoje temos as vitaminadas do Pânico. O inconsciente masculino reage contra o emagrecimento progressivo das modelos e das mulheres que servem como ideal inatingível. Queremos opulência, abaixo a Anorexia e a Bulimia. Por que estou falando disso?
Edward, o vampiro romântico da saga "Crepúsculo", é uma compensação para o inconsciente feminino. Não é à toa que aquele altão magrelo do Robert Pattinson virou sex symbol com o papel. Ele é apaixonado, verdadeiro e completamente cuidadoso e delicado com a sua amada, Bella. Como o inconsciente masculino procura pela mulher cheia de curvas, o inconsciente feminino tem sede desértica de homens românticos, atenciosos, apaixonados.
Um junguiano não deixa de notar a proliferação de filmes e seriados de vampiros e zumbis. Não deixa de ser um sintoma em nossos tempos bicudos. Recebi um comentário no blog de uma moça desesperada pelo namorado-que-não-consegue-assumir-a relação e que fica punindo-a com a grande arma do homem pós moderno, que é o sumiço. Ela se desespera, pede por uma definição, ele se queixa que ela está "invadindo o seu espaço". Finalmente, ele some, e a moça fica enlouquecida com o sumiço. Devo procurá-lo? Não querida. Não deve. Mas já te aviso: você vai procurá-lo, e não será bem recebida. Os homens estão sendo contaminados pelo vírus dos Zumbis Emocionais. A doença é grave e altamente contagiosa. O Zumbi Emocional tem uma profunda dificuldade de vínculo, fica ensimesmado com a sua vida e sua busca pouco objetiva de sucesso e bens de consumo, não dá espaço para vínculos, nem com mulheres nem com ninguém. Durante a noite, o morto vivo sai à procura da caça, ou já tem uma equipe de ficantes à disposição, que ele escolhe como quem escolhe uma camiseta. Durante cerca de meia hora ele é amoroso e se entrega e faz amor como um náufrago que encontrou uma ilha. A mulher sente aquela entrega, aquela conexão. Não é possível que não sinta no resto do dia o que sentiu naquela meia hora. Não é possível? É possível, sim. O amor é um bem de consumo, um aplicativo de celular. Nosso zumbi emocional volta ao seu mundo árido e narcísico. Não liga no dia seguinte, está sempre cheio de trabalho e "passando por um momento difícil". Está sempre enrolado. Nossa obsessiva amorosa esperneia, ameaça, termina a relação inexistente dezenas de vezes. O zumbi emocional ignora: mulher é assim, surta mesmo.
Edward é o contrário disso. Outro dia eu vi num programa da TV a cabo que um grupo de senhoras já próximas à meia idade formaram um fã clube, as "Twilight Moms", ou "As Mães do Crepúsculo". Rivalizam com as filhas adolescentes pelo lugar na fila e gritam com o romantismo e a pegada de vampiros e lobisomens querendo engolir aquela magrelinha sem graça, Bella. Difícil deve ser voltar para casa e encontrar o maridão, com a pança caindo sobre a bermuda, dormindo na frente da TV, que nunca sai dos canais de esporte.

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