sexta-feira, 22 de abril de 2011

Mistério da Páscoa

Ontem o evento foi bem legal. Pequeno, como planejamos, para podermos errar. As pessoas não sabiam, mas eram "cobaias" do espaço e do evento, como nós. Acho que nos saímos bem, palestrantes e o grupo, que foi receptivo, generoso, estimulante. Rita, uma das palestrantes, me levantou muito a bola para falar de Carl Jung, psiquiatra sumiço que muito influencia nosso trabalho. Acabei falando de Neurociência e trabalho multiprofissional. Não deu para falar do véio, que é um assunto muito longo. Mas hoje, na Sexta Feira Santa, fica difícil não produzir um texto junguiano.
Ganhei um DVD baixado da internet há uns dois anos com várias teorias de conspiração sobre o atentado de Onze de Setembro. Outras partes eram dedicadas a outras "farsas", como a história de Jesus. Lembrei o título do DVD, "Zeitgeist". Os autores desse vídeo fizeram vários paralelos entre a história de Jesus e outras mitologias, como a suméria, egípcia, judaica. Tentavam desmascarar o complô que inventou histórias sobre Jesus. Para um junguiano, é um debate meio besta. A história de um rabino que viveu há cerca de dois mil anos na Galiléia e deixou ensinamentos e feitos extraordinários, como um verdadeiro Avatar espiritual, foi evidentemente remendada de vários mitologemas que vinham de outras culturas. Só para citar, o Nascimento Virginal, a Criança Divina, o Escolhido, todos são mitologemas que já haviam aparecido em outras mitologias e foram sendo incorporadas ao mito cristão. Zeitgeist não desmascarou ninguém.
Um filme que eu amo é "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorcese, um filme realizado no final dos anos 80 e que causou uns atentados de fundamentalistas nos cinemas em que foi exibido. Fundamentalistas cristãos, frizemos, pois acharam a leitura do filme, baseada em livro de Nikos Kazantzakis, escandalosa. Vou citar uma cena que causou a ira dos ativistas. Cristo opta no filme, de forma alucinatória, a descer da cruz, casar com Madalena, ter uma família. Depois de muitos anos, encontra um pregador contando a história que celebramos hoje, da Morte e Ressurreição de Jesus, o Cristo. O Jesus do filme chama o pregrador de lado e fala que nada daquilo aconteceu, que ele se casou, constituiu família, portanto, a história era falsa. O pregrador, se não me engano Saulo de Tarso que viria a ser São Paulo (não a cidade, o apóstolo) retruca que para ele de nada fazia diferença a história que aquele desconhecido contava. O "meu" Jesus é que interessa e esse morreu na cruz e venceu a morte. Bingo. O mito cristão conta uma trajetória espiritual, do homem Jesus ao Cristo espiritual, que volta da morte como Corpo Luminoso e Consciência Crística. É isso que vem sendo recontado e reelaborado nesses séculos. No final do filme, Jesus acorda de seu sonho e percebe, com alívio, que seu Sacrifício está consumado.
Hoje comemoramos o sacrifício de um ser que chama sobre si todo o sofrimento humano e vai redimí-lo com esse sacrifício. Temos tantos horrores escondidos na natureza humana, mas temos também a capacidade de entrega, de sacrifício da própria vida para benefício do Outro. Lembro dos funcionários da usina de Fukushima que se queimaram e contaminaram de radioatividade na luta febril para esfriar os reatores. Muitos deles devem ter o futuro comprometido por essa luta. Eles podem ter sacrificado a própria vida para evitar um desastre nuclear. Eles representam a morte e ressurreição daquele filho de carpinteiro da Galiléia. Mesmo que não sejam cristãos.

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