quinta-feira, 2 de junho de 2011

Ameaça Invisível

Quem me conhece sabe muito bem que eu sou o último a defender a polimedicação e a polimedicalização de nossos dias (parece a mesma coisa, mas não é). Já dei aula e fiz propaganda dos livros de Daniel Servant-Schreiber, que justamente estudam formas de tratamentos alternativos para enfrentar o estresse e suas consequências: exercícios físicos, meditação, dietas, higiene do sono, psicoterapia, tudo é uma forma de se preservar ou incrementar o funcionamento cerebral, melhorando os sintomas de desgaste e mesmo esgotamento que chamamos de depressão. Essas técnicas, associadas a medicação bem indicada e acompanhada, permitem na minha experiência o uso de doses até dois terços menores do que a de colegas que só acreditam em genes defeituosos e doenças com base biológica, apenas. Psicoterapia, para muitos, é divertimento de senhoras com saias longas e vontade de jogar conversa fora com os pacientes até o remédio começar a fazer efeito. Pois as técnicas combinadas permitem a redução dos estressores, a sobrecarga diária que afeta uma enorme parcela da população e responde talvez pelo lucro de muitas empresas farmacêuticas, pois não há quase nenhuma doença que não tenha uma participação enorme do estresse e dos estressores que se perpetuam em nossa vida. Nessa semana mesmo, tive dois debates acalorados com pacientes jovens que se recusam a tomar medicação para quadros depressivos leves, aqueles que não deixam a pessoa de cama mas vão tirando gradativamente a cor e o gosto da vida. Sono pouco reparador, mesmo que a pessoa durma várias horas, cansaço diário e permanente, refletido em mau humor e irritação constantes, impaciência, dificuldades em se concentrar e se lembrar de coisas, diminuição do desejo sexual e de outros desejos, evitação social, tudo isso pode fazer parte do mesmo problema. Entendo a relutância que as pessoas tem de usar um medicamento com ação no Sistema Nervoso Central, entendo também que com uma "higiene cerebral" melhor, com os cuidados que já apontei acima e em outros posts, muitos desses sintomas podem ser melhorados ou mesmo superados. Mas, se a pessoa tem esses sintomas há semanas ou meses, tenta se cuidar de várias formas mas continua com altos e baixos a ponto de acreditar que esse estado de fadiga permanente é seu estado normal, saiba que o seu sofrimento é desnecessário e sua autosuficiência, burra. Há tratamentos acessíveis, relativamente simples e que usam, sim, medicamentos com ação no Sistema Nervoso que vão recuperar os seus neurônios desse estado de semifalência.
Eu não sou lá muito fã dos Doze Passos dos Alcoólicos Anônimos, com exceção do primeiro passo, que é reconhecer que, sozinhos, não vamos a lugar nenhum. E que às vezes precisamos muito de ajuda. Talvez esse passo seja o mais importante de todos.

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