quarta-feira, 15 de junho de 2011

Solidão

Peço desculpas aos poucos e fiéis leitores desse blog. Passei o fim de semana fazendo mudança de consultório, é impressionante a quantidade de tranqueira que conseguimos acumular em poucos anos. Não tive força física nem para teclar sobre as pessoas que odeiam o Dia do Namorados e como essas datas comerciais exacerbam nas pessoas o sentimento de solidão. Impressionante como a vida pós moderna reforça nas pessoas a sensação de acesso absoluto e isolamento ao mesmo tempo. No filme "Ele não está afim de você", a personagem observa que o seu desencontro amoroso estava rolando no celular, computador, telefone fixo, secretária eletrônica. Ela estava sendo rejeitada em sete diferentes tecnologias e isso é muito cansativo. Essa é uma cena para odiar os dias de Namorados.
No almoço de Domingo, entre um embarque de uma estante e o empacotamento de amostras de remédios, encontrei uma querida amiga e colega que mora lá perto. Ela foi minha supervisora na residência e ainda me chama de "menino", o que é muito confortável com esse bigode ficando branco. Ela é uma psiquiatra respeitada que é solicitada a dar entrevistas na mídia. Perguntou para mim se pode me passar algumas pautas mico, como "Solidão". O que tem um psiquiatra para falar de solidão? Vamos citar as estatísticas, que a prevalência de transtornos psiquiátricos é muito maior em pessoas solitárias? Que o isolamento social é frequentemente uma complicação e fator de agravamento de quadros psiquiátricos? É um jeito chato de abordar a questão, não acham? Nos despedimos para eu voltar à arrumação do novo consultório, ela prometeu me passar essas entrevistas (Uma vez dei uma entrevista no Jornal da Record, no dia seguinte a atendente do restaurante por quilo chamou todas as cozinheiras para ver o "médico que estava na televisão". Virei uma celebridade do quilão. Meus quinze minutos de fama).
Jung estudou os tipos psicológicos em uma fase de sua carreira. Dividiu, para começar, duas tendências principais: Introversão e Extroversão. Ao contrário do que pensa o senso comum, Introversão não significa timidez e Extroversão não significa uma pessoa comunicativa. O Introvertido é alguém que experimenta o mundo internamente. Ele vê, por exemplo, um Disco Voador e observa, estuda, compara com os filmes B que assistiu em sua infância, aí vai se aproximar. O Extrovertido vê a nave alienígena e corre para ir puxar papo, sendo prontamente pulverizado por canhões de raios gama. Essa é a diferença. O introvertido vive internamente e aí se move, o extrovertido se orienta pelo mundo exterior, vai ver o que é, provar, testar. É claro qe vivemos num mundo em que a atitude extrovertida é mais valorizada do que a introversão. Inclusive no jogo do amor. E na solidão. A pessoa introvertida, até por tolerar mais a própria companhia, acaba tendendo mais à solidão. Mas isso não é uma regra.
No dia a dia do consultório, peço muito para os pacientes com diferentes quadros clínicos para não fugir ao convívio humano.O nosso Cérebro é relacional, precisa de contao com as coisas e as pessoas. Se possível, um bom jeito de sair da solidão é cuidar de alguma coisa. Cuidar de um bicho, de uma samambaia ( o Dentinho do Corinthians que o diga), de um projeto. Uma das coisas que perpetua a solidão é o excessivo zelo por si, que torna a pessoa egocêntrica, outra fonte inesgotável de solidão. A vida precisa de cuidado, e isso afasta a solidão para introvertidos e extrovertidos. Os introvertidos cuidam melhor, por isso, por estranho que pareça, sentem-se menos solitários.

Um comentário:

  1. Hahahahah!! Muuuito booom!!Pulverizacão por canhões de raios gama e Dentinho /samambaia!!! Amei!!!Hahaha!!
    Mas falando da solidão, creio também que um senso crítico exacerbado afaste as pessoas.
    Temos hoje uma exigência exagerada de "como as pessoas devem ser"para se tornarem interessantes e/ou atraentes e isso obviamente, disfarcado,pois estamos achando que vivemos uma "liberdade de ser".
    Existe quase uma cartilha do que se deve ou não se deve ser para haver aceitacão.
    Tudo bem que alguns padrões são necessários para vivermos em sociedade, mas estou falando do criticismo camuflado, interno, que muitas vezes rejeita por preconceito ou medo...
    E isso, aumenta a solidão , pois perde-se oportunidades de conhecer muuuuita gente legal!!!
    Ter um olhar mais suave para oferecer!!!
    Que boooom é issooo!!!
    Para quem olha e para quem é olhado!!

    Bjs
    Sonia

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