sábado, 22 de setembro de 2012

Meditação e Finalidades

Foi a partir do final do século XIX e início do XX que a influência da cultura oriental passou a se mais documentada, sobretudo essa estranha (para nós, ocidentais) prática de ficar sentado, na posição de lótus, esvaziando a mente de pensamentos por horas a fio. Uma atividade chamada Meditação. Qual a finalidade disso? Essa pergunta já é um grande X da questão entre as duas culturas: um pensamento finalista, ou intencionalista e o outro que procura, o tempo todo, afastar a mente das amarras da intenção.
Há uma cena no belíssimo filme “Sete Anos no Tibet” em que Brad Pitt faz um papel de um alpinista alemão famoso, que se esconde no Tibet durante a Segunda Guerra para não ficar prisioneiro das forças inglesas, demonstra as suas habilidades de escalada para uma jovem tibetana. Ele está com uma queda por ela e a disputa com um amigo, que também está preso lá pelo mesmo motivo que ele. Lá vai o cara todo pimpão tentando demonstrar que o gostosão lá é ele, olha como eu escalo o morro, olha como manejo as cordas, sou atlético, etc, etc. A moça olha para ele de forma neutra e responde que aquele tipo de demonstração só o faz parecer mais bobo. As pessoas de lá estavam sempre tentando domar o Ego, em vez de glorificá-lo. Pois, nós, ocidentais, tentamos sempre glorificar o Ego com as imagens de herói projetadas nas mídias, ou da mulher escultural, perfeita, que serve de enfeite ao herói. A moça do Tibete dá um fora no Brad Pitt e fica com seu amigo feioso, mais puro de coração. Convenhamos, uma escolha que a levaria à avaliação psiquiátrica desse lado do mundo. Aqui temos mais uma peça do quebracabeça: a Meditação é uma forma de acalmar o Ego, tirá-lo de cena, senão ele fica o tempo todo, correndo em círculos atrás de seus pensamentos. Mas a dúvida ainda resiste: para que serve isso?
Eu li em um livro sobre um mestre Zen que foi dar aula nos Estados Unidos sobre a Não Mente e a Meditação. Um jornal local fez uma reportagem sobre o mestre e suas aulas. A matéria dizia que a sua Meditação era perfeita para o Relaxamento e a redução das tensões da vida moderna. Um dos anfitriões americanos traduziu essa matéria, pensando agradar o mestre. Qual não foi a sua surpresa quando o mestre falou que aquela reportagem era “muito cruel”. Já se vai meio século que o Mestre achou que essa leitura era muito cruel e nós, ocidentais não sabemos onde está essa crueldade. A Meditação continua sendo comparada ou indicada como um Relaxamento do Corpo e da Atividade Mental que traz benefícios de modular as tensões de nossa civilização adrenérgica. Mas por que será que o homem achou essa leitura cruel?
Na Neurociência, estuda-se há décadas a interação entre as experiências e o meio ambiente sobre a expressão genética. Vários países, de diferentes culturas, tem protegido a relação da mãe com os bebês nos primeiros meses de vida. Estudos mostram que o simples reconhecimento do rosto ou da voz da mãe já produzem uma descarga de Endorfinas no Cérebro Emocional do bebê. Isso vai ter influência na capacidade de estabelecer conexões sociais agradáveis e confiar na vida. Ontem um paciente relatava o terror, na sua infância, de quando fazia uma arte e ficava fechado no quarto, esperando pela punição, muitas vezes física, que a sua mãe iria determinar. Essa rede neural, hoje, faz com que ele seja mandado embora sistematicamente de seus empregos, simplesmente por esperar da figura de autoridade uma punição severa por um erro banal. O ambiente relaxado e protetor da psicoterapia permite que ele revisite a cena, compreenda os seus efeitos na construção do software defeituoso que atrapalha a sua vida pessoal e amorosa. Podemos dizer que a sua mãe sabia que estava fazendo aquele estrago no futuro de seu filho? É claro que não. Estava tentando domar um menino levado, mas usou os seus próprios medos na tarefa. Os resultados não foram bons, então.
O que eu posso dizer ao Mestre Zen é que a meditação e os estados de mente relaxada tem, sim, efeito terapêutico e liberador de Endorfinas e Serotonina. Isso é muito importante para nós, ocidentais assustados. Como o bebê que reconhece o sorriso da mãe, podemos “usar” a Meditação para reeducar nossos Cérebros adrenérgicos demais. Eu sei que a percepção do Sábio oriental é que a Meditação é uma prática de alargamento de Alma e de Consciência. É muito mais do que um banho de Endorfinas. Mas nós somos mais jovens, cultural e espiritualmente. Precisamos saber para o que serve e como usar a coisa. Isso pode ser um bom começo. Podemos sorrir mais e acreditar mais na vida. Isso poderia diminuir muito nossa violência interna e externa. Vamos praticar.

Um comentário:

  1. Oi Spinelli,

    Recentemente tive uma experiência dentro da igreja católica sobre a meditação. Totalmente diferente, pois para mim sempre foi conversar com Deus. É extremamente difícil esvaziar a mente e meditar! Para mim, quase impossível!
    Se tiver tempo, veja este "site": www.wccm.com.br
    É sobre uma nova linha na igreja católica que se baseia na meditação oriental.
    Bjos,
    Lúcia




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