domingo, 2 de setembro de 2012

Menina Veneno

Nos comentários do post de Sexta Feira, sobre a Donzela Venenosa, tivemos o ponto de vista de um leitor e suas perguntas sobre como superar esse tipo de relação. Uma seguidora desse blog também colocou a dificuldade com o Masculino Destrutivo e seus efeitos nas mulheres. Pronto. A guerra dos sexos chegou a esse blog. Vou tentar responder a algumas dessas questões.
Fico imaginando se a Neurociência Cognitiva vai realmente enterrar de vez a Psicologia. Digo isso porque já criaram um termo para descrever os casos de amor que só trazem sofrimento: a Dissonância Cognitiva. São relacionamentos em que ficamos presos a pessoas e situações de maus tratos por parte do chefe, dos pais ou da namorada. Toneladas de livros de autoajuda sugerem que no Jogo do Amor ganha mais quem pode perder. A Neurobiologia, ou a Neuroantropologia, ou a Neuro Alguma Coisa fala dos algoritmos sexuais: no jogo do flerte, olhamos para nossa posição no Mercado do Amor para escolher a melhor parceira/parceiro. Contam vários fatores: posição social, tamanho da barriguinha, inteligência, etc, etc. As fêmeas procuram por machos fortes e protetores, os machos pelos melhores quadris e caracteres sexuais que não preciso mencionar. O jogo se caracteriza, para os machos, de espalhar seu DNA no maior número possível de fêmeas e para as fêmeas, de capturar o Macho Alfa e fazê-lo procriar e trocar as fraldas das crias. Esse jogo consome literatura, cinema, poesia e uma indústria do Jogo do Amor e dos Algoritmos Sexuais. Será que a discussão sobre o Amor entre homem e mulher vai ser discutido assim nos congressos e nas bancas da Ciência?
Eu costumava dizer que todo homem precisa de uma Vaca e toda mulher precisa de um Vampiro. A Donzela Venenosa representa essa mulher que faz gato e sapato do homem. Exerce a tal Dissonância Cognitiva como ninguém.
No filme sobre o nascimento da Psicanálise, “Um Método Perigoso”, Jung e Freud, com toda a panca de gigantes de nossa Cultura e pioneiros da Alma humana, foram feitos de bobos por Sabine Spielrein, pintada como heroína no meio do clube do Bolinha da nascente psicanálise. A moça seduziu o seu terapeuta, teve um caso com ele, pressionou-o até o limite para largar a família e viver com ela em uma eterna prisão sexual. Uma mulher bela, intensa, sexualmente liberada no início do século XX, vamos combinar, era muita coisa para um Jung só. Ele teve que se desligar da Psiquiatria de Bleuler, a mais avançada do mundo na época, por conta do caso rumoroso. Depois a moça foi reclamar com o papai Freud que o seu filho traquinas, Jung, tinha aprontado com ela. Mais lenha na fogueira da crescente irritação entre ambos, que levou-os ao rompimento. Sabine Spielrein pegou Jung bombando na carreira, fazendo conferências e pesquisas de ponta em todo mundo, depois aclamado como Príncipe Consorte da Psicanálise e deixou-o, mais de uma década depois, banido da Psiquiatria, rompido com a Psicanálise e em quadro de que hoje chamaríamos de uma Depressão Maior, que levou anos para superar. Esse é o serviço da Donzela Venenosa, ou da Anima Negativa: prender o homem em seus encantos, jogar com a sua fragilidade e seu fascínio, exigir sacrifícios que ele não pode fazer e deixá-lo depois como uma manga chupada. Mas esse foi realmente o papel da moça na vida do psiquiatra suíço? É claro que não. A paixão e a prisão sexual que ela proporcionou levou Jung aos limites da própria resistência, tirou-o de sua vidinha protegida e despertou a sua Alma. O caso com Sabine abriu caminhos, deu coragem e expandiu a Consciência do jovem psiquiatra. O rompimento com a Psiquiatria da época e com Freud eram uma questão de tempo, ela apenas foi catalizadora. Uma musa dolorosa.
A Donzela Venenosa, assim como o Vampiro, são figuras arquetípicas de relacionamentos que trazem muito sofrimento, normalmente porque o ser amado não ama o apaixonado, não retribue o seu amor gigantesco, mas também não abre mão de ter aquele amor à sua disposição. Não é preciso ir longe para localizar pessoas sofrendo desse desencontro amoroso. Casamento desfeitos, empregos perdidos e horas e horas no divã são gastos por esses amores que parecem já nascer destinados a não se consumar. Uma pergunta do leitor: como sair dele? Uma resposta clara: não sei. Acho que não saímos desse tipo de amor, ele vai saindo da gente. A percepção que amor não é isso, o sofrimento em si e, sobretudo, a percepção que a Donzela Venenosa, bem como o Vampiro, não desejam o ser que os ama, desejam antes serem amados, ou atendidos, mas não desejam oferecer muita coisa em troca.
Difícil é assumir a perda, o enorme investimento amoroso como prejuízo e seguir em frente, à procura de alguém que realmente saiba o que é amar. Será que a Neurociência vai transformar isso também em teoria?

6 comentários:

  1. Desculpa, mas vc é f%$@ !!!

    Obrigado.

    Eu, de novo.

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  2. DR, esse Anima negativa vem por problemas no passado, com pai e mãe ?

    O que na realidade a faz ser tão maquiavélica e dominadora ?
    Ela faz isso conscientemente, ou tá dentro dela ?
    Não pode amar o alvo ?

    EB

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  3. Muito duro assumir a perda e começar de novo...

    Mas, se vier um novo amor, tranquilo, terá valido a pena.

    EB

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    1. Anima Negativa é uma estrutura do seu Inconsciente, um Arquétipo, não é uma pessoa. Algumas pessoas ou relacionamentos podem "encarná-la" e fazerem a sua função. A sua dúvida é sobre a pessoa descrita no final desse texto, que tem uma dificuldade imensa de sair de sua posição egocêntrica, desejando o desejo do Outro, mas sem capacidade real de entrega. Essa pessoa pode realmente amar alguém? Claro que sim, mas normalmente alguém com a mesma capacidade de manipulação. Uma cobra criada igual. Ou começa a perceber que o tempo passa e todo mundo vai embora. Mas é um processo longo. Abç

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    2. LONGO ?!

      A VIDA TODA...

      MAS...COMO SABER ?
      E SENTIR?!

      SENTIR não tem explicação
      existe e ponto.

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  4. ...longo ?! longo é apelido !!! só uma década ou bem mais ... ainda !
    Mas a vida não nos dá outra opção ...
    Ou cresce, ou CRESCE !!!

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