quarta-feira, 4 de maio de 2011

A Jornada

Ontem eu conversava com uma cliente querida que se queixava de sintomas que os medicamentos nem sempre corrigem: desânimo com a vida, sansação de falta de sentido e, pior de tudo, uma profunda indecisão, uma sensação vaga de incerteza quanto à sua vida e ao futuro. Os colegas diriam: é uma Depressão, cara pálida. Aumenta a dose do antidepressivo e chama a próxima ficha. Não, meus caros. A Depressão, sem dúvida, ela teve, seguiu-se à morte de um ente querido. Isso não é Depressão, não. É uma Jornada Noturna, mesmo.
Vivemos numa época de felicidade compulsória. Observo em alguns adolescentes e adultos jovens que atendo por aqui essa síndrome, uma dependência de baladas. O quadro é assim: o sujeito tem três baladas para ir na mesma noite, geralmente dá perda total alcoólica na primeira e perde as outras duas. Segue-se uma reação de luto e desespero. Eu perdi as outras duas baladas. Sempre a sensação de urgência e de estar perdendo alguma coisa. Não se pode perder nada. Se eu perder, vou ficar fora da festa. Imagine a sensação permanente de urgência e angústia. Tenho que correr, a felicidade me escapa.
A felicidade compulsória (e a compulsiva, que não são a mesma coisa) nos obriga todos à alegria. Temos vários e coloridos livros de autoajuda com fórmulas infalíveis de obter a felicidade que nos é devida. Se não conseguimos, é por pura incompetência e falta de disciplina. Se eu usar adequadamente as técnicas indicadas, não vou sentir tristeza nunca mais. Temos aí um novo quadro dos nossos dias: a culpa por estar doente. Se eu estou doente ou demorando para melhorar, então eu tenho culpa. Complicado, não? Pois é.
Estou dando essa volta toda para chegar ao tema do post: a Jornada de Transformação. Vou começar a comentar sobre isso nas próximas postagens. Mas posso adiantar: toda vez que estamos em processo de mudança ou de transformação, temos a sensação de dificuldade, medo, indecisão, incerteza. Não importa quantos consultores motivacionais gritem em nossos ouvidos solicitando animação e felicidade, não adianta, porque tem dia que você não quer ou simplesmente não consegue sentir toda essa animação. As fábulas, os mitos, os contos de fada descrevem muito bem essa jornada de autoconhecimento e os medos, as incertezas e os monstros que vamos cruzar no caminho, sem saber quando e como chegar. Se você não é adepto da felicidade compulsória, está convidado(a) a nos acompanhar nessa trajetória. Boa viagem,então, ou boa jornada.

Um comentário:

  1. Ótimo post! Tenho um blog tb e estava escrevendo sobre isso outro dia. Olho ao redor e vejo as pessoas em "eterna" fuga, procurando a tal "felicidade" fora delas, como se fosse possível encontrar isso em alguma balada, bebendo e alterando a lucidez, correndo para tudo aquilo que acreditam que se não forem estarão "perdendo" alguma coisa (tipo : a grama do vizinho é sempre mais verde rs) . Aí quando voltam ao estado normal se sentem frustradas,insatisfeitas com a própria realidade. Gostaria que as pessoas tivessem ânsia em se autoconhecer, em entrar em contato consigo mesmas e entender (compreender já é pedir demais rs) que a felicidade é um estado de espírito.... ela não está fora de nós..... está dentro de nós, só cabe a nós nos tornarmos sábios o bastante para enxergar e vivenciar este estado de espírito no dia-a-dia, na beleza da vida! A.M.

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