sexta-feira, 6 de maio de 2011

Pelo amor ou pela dor

Ontem escrevi sobre uma personagem querida da saga de "Procurando Nemo": Dory. Para quem está pegando o bonde agora, já estou escrevendo há alguns posts sobre a metáfora da Jornada, em "junguianês", A Jornada Arquetípica ou de Transformação, metáfora muita cara aos junguianos e à nossa cultura.
Agora cedo eu estava fazendo a minha bike, com um truque que uso, que é começar a ver um filme e só continuar na próxima pedalada ( a bicicleta é ergométrica, diga-se). A vantagem é que não vou contar o fim do filme, já que eu não o conheço. O filme é sobre um velho oftalmologista viúvo que recebe a notícia devastadora da morte de seu único filho, acidentado logo no início do seu caminho de Santiago de Compostela. Para quem não sabe, o Caminho de Santiago é uma jornada de 800 km que atravessa Espanha e França, por um lendária trilha onde estariam os despojos de São Tiago. Durante todo o ano milhares de peregrinos percorrem esse caminho em busca de aprendizado e iluminação. No filme, o homem pega as cinzas de seu filho e vai fazer, com a sua mochila e seus instrumentos, o caminho que seu filho não conseguiu completar, deixando um pouquinho dele e de suas cinzas em cada parada. O filme vai mostrar esse homem solitário, acomodado em seu consultório e sua vidinha, tentando se reencontrar com o seu filho e consigo próprio nesse caminho.
No "Nemo" quem vai fazer a jornada é Marlin, peixe-palhaço que passa, no começo do filme, por uma perda profunda e atróz: a sua companheira, Coral, e todos os seus ovinhos são devorados por um barracuda (ou será uma barracuda? Não sei). Resta um ovinho, um filhote, Nemo. Marlin torna-se um peixe medroso e superprotetor. Com todo o amor pelo seu filhote, a figura central de sua vida, Marlin é um pai/mãe sufocante, sempre vigiando e incutindo medo em seu filho. Parece familiar? Bastante familiar, não é mesmo?
Como costuma acontecer, a vida vai dar uma bicuda em Marlin para ele enfrentar os seus medos: o seu filho vai ser capturado por um mergulhador e ele, o covarde de carteirinha, vai ter que se lançar ao mar aberto, para fazer uma jornada às cegas, uma Jornada Improvável. Isso é exatamente o contrário de tudo o que ele vivera: lançar-se aos mares cheios de perigos, sem mapas, sem pistas, procurando o seu filho às cegas. Qualquer um diria que a sua busca é em vão. Não é improvável, é impossível. Quantas vezes ouvimos essa advertência? Nem tente, você não vai conseguir. Marlin não tem opção.
Diz um ditado popular que na vida nos movemos pelo amor ou pela dor. Normalmente pela dor. Marlin vai se mover pelas duas. Mas a principal força motriz é seu amor. É ele que pode remover montanhas. Ou distâncias.

2 comentários:

  1. Olá
    Fiquei muito interessada nesse filme do velho oftalmologista.
    Poderia me dar o nome?
    obrigada

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  2. Boa noite Marco!!!!!

    Vc sabe que está cada dia melhor seus posts,a sensação que passa [pelo menos pra mim],que vc está amando isso.Saber escrever ,colocar o que pensamos no papel ,deve ser muito bom.bj
    Ci

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