quarta-feira, 11 de maio de 2011

A Palestra

Não vou agradecer de novo os comentários, que já está ficando repetitivo. Vou responder a alguns: Muller, você tem muito a acrescentar e a ouvir, mas tem que se inscrever, cara. Ligue para a Yrá. Ana, leia o "Curar", do mesmo autor. É bem legal. A.M.: obrigado pela sugestão. Não sei se vou falar sobre o Matrix, mas talvez de uma personagem sensacional, que é a Oráculo. Aguarde.
Apesar desses comentários calorosos, a idéia da palestra não está reverberando. Acho que as pessoas o acham muito técnico, ou difícil. Não estamos com muitas inscrições até agora. Mas como sou junguiano, vou seguir o Zeca Pagodinho e deixar a vida levar o evento. Vamos ver no que dá.
Outro dia estava lendo uma coluna do Dráuzio Varella na Folha que deu dó. Acho que a aula também vai ser uma forma de responder às questões que ele levantou. Em suma, ele comentava, bastante desalentado, sobre a dificuldade que as pessoas tem de mudar os seus hábitos. O médico pode ficar repetindo, à exaustão, o saber conquistado por muitos milhões de dólares de pesquisa e décadas de prática. Os fumantes não param de fumar, os obesos não conseguem emagrecer, os sedentários não vão fazer exercícios. Saber o que precisamos fazer é uma coisa, conseguir aplicá-las é outra, muito diferente. Podemos fazer listas e mais listas das coisas que gostaríamos de modificar para ter uma vida mais saudável. Conseguimos até a animação de começar dietas, personal, terapias, pilates, yôga. Tudo isso dura mais ou menos duas semanas. Se você for persistente, umas três semanas, quem sabe. Depois voltamos aos nossos velhos hábitos e seus guardiões, a preguiça e o autoengano. Talvez o mesmo desalento que o Dr Dráuzio sente as pessoas sintam antes de vir a uma palestra onde vão ouvir a lição que sabemos de cor, só nos resta aprender.
Temos os hábitos muito profundamente marcados em nossas redes neurais. Cada ato que repetimos cria uma espécie de sistema que tende a se repetir. A nossa identidade está muito estruturada nessas redes. Um paciente querido pediu o seu boné recentemente da terapia. Foi criado dentro de sua mitologia familiar como aquele que cuida, que se sacrifica pelos outros. Um papel inusitado, já que normalmente essas funções são outorgadas às mulheres.É uma marido dedicado, um ótimo pai, profissional bem sucedido, o que não o torna menos infeliz. A terapia o ajudou a atravessar um período de tormenta em sua vida pessoal e profissional, com depressões incluídas no menu. Mas não conseguimos mexer nessa rede neural do menino triste, que faz tudo certo mas sente-se sempre só e não reconhecido.
Uma Psiquiatria Integrada tenta se haver com esses hábitos, esses softwares profundos que fazem da vida das pessoas uma repetição de erros e cacoetes. Quando dá certo, e frequentemente vai dando certo de uma forma gradativa e não espetacular, essas falsas identidades vão sendo largadas na estrada, dando lugar a modelos mais conscientes de bem estar. É por esse motivo que não basta acertar um remédio sem descobrir esses softwares defeituosos. Nem começar uma dieta se a mesma não for um instrumento de ganho de consciência, inclusive da consciência alimentar. Vou lançar aos meus leitores (todos os doze) um desafio: se você quer aumentar a sua consciência alimentar, já que todos queremos eliminar uns quilinhos, comece diminuindo o tamanho das garfadas. Comendo em porções e garfadas menores, enganamos nosso sistema de saciedade, dando a impressão de que um prato médio é um prato de caminhoneiro. Isso traz saciedade e tira da dieta a impressão de que comemos muito pouco, portanto, vamos morrer de fome. Veja se é mole introduzir esse novo hábito e quantas vezes você vai esquecer de fazê-lo.
Não é fácil mexer com esses hábitos. Mas podemos começar a brincar com eles. Todo dia.

2 comentários:

  1. Desafio aceito!! Mas resta uma dúvida: vale um sanduíche pequeno do McDonalds, sem fritas?? rs
    Quanto à palestra, já estou devidamente inscrito e pretendo levar minha digníssima, caso ela possa.
    Abraço,
    Müller

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  2. Vou dar um pitaco em relação as palestras rs..... Frequento um lugar que no início tb era pouco frequentado.....sabe por que??? Não era porque as palestras eram técnicas ou difíceis...... o que ocorre é que as pessoas não gostam de ouvir o que incomoda, o que traz questionamento o que vai fazer "acordar".... elas querem viver acomodadas no conhecido, não querem mudar....não querem sair da zona de conforto, vivem se enganando....vivem em fugas.....Não desista das palestras...A.M.

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