domingo, 2 de outubro de 2011

Cada um com seus problemas

Juro que hoje, Domingão, eu estava pronto para fazer um texto mais leve. Ontem fui flagrado por uma amiga e médica fazendo uma fezinha na Megasena, mais uma vez infrutífera. Falei para ela que se eu ganhasse continuaria atendendo, mas só para me divertir. Iria trabalhar com o Tempo Lógico de Lacan, um método em que o analista interrompe a sessão na hora em que o paciente diz algo que atinge o Significante. Já imagino as sessões sendo interrompidas, o terapeuta vestido de Chacrinha ou de Sílvio Santos (mais uma vez a minha memória paradoxal dos anos 70) interrompendo a sessão com uma buzinada ou com gritos do Lombardi. Frases do tipo:"Eu quase não vinha hoje"; "Não tenho nada para dizer" ; "Tive um monte de sonhos mas não lembro de nenhum", seriam prontamente punidos com buzinadas e um gancho de desenhos antigos puxando o analisando de seu divã. Não ganhei na Megasena e vou continuar sendo um junguiano, paciência. Mas essa brincadeira me remete a um personagem cômico que estou trabalhando, Roberval, o terapeuta emocional. Roberval seria um vetusto psicoterapeuta, ou psicanalista (não sei se o leitor sabe mas as palavras não são um sinônimo), um homem conservador, que leva muito a sério a sua profissão e escuta. Tudo isso é abalado por repentes em que Roberval perde as estribeiras e fala uma barbaridade, do tipo: "Você acha que meu ouvido é penico?"; "O que te faz imaginar que eu quero ouvir essa bosta?"; "Ele não vai te ligar nunca, minha filha, você não se toca?". Depois desse breve momento de descontrole verbal, Roberval volta a seu comportamento circunspecto. Zuleide, a recepcionista que já não aguenta mais a rádio que só toca música clássica na recepção e aproveita as saídas do patrão para encher as caixas de som com Sertanejo Universitário (aqui entre nós, caros e fiéis leitores dessa coluna, que p...é Sertanejo Universitário?!), tenta explicar que seu patrão é ótimo e conceituado psicanalista, mas sofre de um leve Transtorno que o faz falar ou agir impulsivamente. Nada muito sério, o cliente ou a cliente precisam entender. É só de vez em quando. Bem, esse é o personagem, e se alguém está pensando na influência do "Analista de Bagé" e de Luís Fernando Veríssimo, bingo (só que agora é anos 80, minha gente). Bem, se a inspiração se mantiver, poderemos estrear Roberval em outro Domingão. Porque a realidade supera a ficção. Fui levar meus moleques no Aeroporto hoje pela madrugada e vi cartazes com o lançamento do novo livro de um conhecido autor de autoajuda. Esfreguei os olhos, meio turvados pelo sono para ver se o título era aquele mesmo. Era. Atenção galera: "Problemas? Oba!". O que? Problemas, oba? É isso mesmo? Isso é o início de uma trilogia, do tipo "Estou com Câncer, tesão!!", ou "A minha mulher me chifrou: Supimpa!"??! Os meus poucos e fiéis leitores são testemunhas do meu esforço em manter um tom positivo e propositivo para esse blog. Não meto o pau em colegas e quando comento as suas pataquadas evito citar nomes ou apontar dedos. Mas essa foi demais! Estragou a estréia do Roberval. Não é possível infantilizar assim o seu público. Não é possível que o discurso desses "Consultores Motivacionais" vão chegar a esse nível de emburrecimento. Já imagino as palestras, o Grande Motivador fazendo a sua platéia bater palminhas e gritar : "Que venham os problemas, estou super motivado!!". Todos batendo palminhas ao som do tema do Sílvio Santos (de novo, os anos 70): lai la larai, lai la larai...
Deus me livre de desrespeitar a inteligência dos leitores. Deus me livre dos livros que não li e não gostei. Bom Domingo.

2 comentários:

  1. Trabalhamos com esforços nossas dificuldades e problemas.
    Para enfrentá-los é preciso força, coragem, ânimo, que nem sempre estão disponíveis.
    Buscamos, nos esforçamos para isso.Em meio a sofrimentos e dores muita vezes.
    E cada um sabe de sua dor.
    E quem quer ou quem pode, busca, vai , caminha. Quando pode .
    E precisamos sempre respeitar limites.
    Problemas são duros .
    Alguns problemas chegam a paralisar e fazem alguns desistir...
    Sim, é sempre assunto sério.

    Bj
    Sonia

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  2. Sertanejo Universitário: De origem pantaneira oriunda do estado do Mato Grosso do Sul, tendo como seus precursores a dupla João Bosco e Vinícius, que em 1994 iniciaram sua carreira tocando em bares para universitarios na capital, Campo Grande.

    Por surgir após o segundo movimento sertanejo (o Sertanejo Romântico), esse estilo já não conta com letras tão regionais e situações vividas por caipiras (como o Sertanejo Raiz). Geralmente as músicas tratam de assuntos do Sertanejo Romântico da forma como os jovens veem (assuntos como poligamia e traição).

    Dr. Spinelli, espero ter colaborado para o esclarecimento dessa questão que o estava incomodando!!!
    Hahhaha!!!

    Bj
    Sonia

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