sábado, 1 de outubro de 2011

Shifters

Peço desculpas por mais um título em Inglês. Alguns termos não encontram bons equivalentes em Português. Caetano dizia que só é possível filosofar em Alemão. Não conheço a língua germânica para poder avaliar a afirmação\brincadeira de Caetano, que perdeu muita força como provocador cultural nos anos zero zero, mas esse é outro assunto. Estava lendo uma notícia no portal UOL, que estudos com um cogumelo alucinógeno, muito familiar aos feiticeiros mexicanos, o psylocibe, produz mudanças na personalidade das pessoas que o experimentam, pessoas sem histórico de uso de drogas ou de dependências. As pessoas, após a experiência psicodélica passam a ter uma mente mais aberta, uma atenção mais difusa e uma abertura a o que chamamos de um mundo espiritual, pode-se assim dizer. Não tomei contato com o estudo e já posso imaginar uma ampla maioria de colegas da comunidade científica torcendo o nariz imediatamente e pensando que isso é uma bobagem riponga deslocada no século vinte e um.
Para quem não sabe, na década se sessenta houve o florescimento de uma tendência, o do estudo dos estados alterados de consciência. Os estudos foram muito baseados no LSD, uma dietilamida sintetizada artificialmente que hoje circula em nossas raves e baladas. Aliás, ontem mais um moleque saiu da balada em um carro possante e saiu dando batidas a 200 km por hora na cidade. Não parece uma coisa alcoólica, apenas, como a mídia e a polícia insinua. Lembra mais uma balinha de Ecstasy, ou várias. Mas não estou falando de balas, estou falando de doces, na linguagem dos baladeiros. Os estudos com LSD demonstravam visões e períodos imensos em outro espaço-tempo que produziam experiências de transformação profunda nas pessoas. Como uma experiência espiritual que muda o rumo e a visão de vida de uma pessoa. É lógico que algumas pessoas não voltavam tão bem da experiência, os estudos foram proibidos e desacreditados em todas essas décadas. Esse estudo com o cogumelo dá uma cutucada nessa ferida.
Já escrevi muito sobre isso no mês passado, com os títulos de Mudança. Todos os dias tentamos mudar, melhorar algo em nós e no mundo. Acabamos nos deparando com a repetição boçal de nossos velhos esquemas e neuroses. Nesse fim de semana, vamos desperdiçar a dieta dos dias "úteis" em alguma churrascaria rodízio ou festa de criança. Na Segunda Feira vamos prometer que dessa vez a dieta vai ultrapassar o próximo final de semana. Vamos pagar a matrícula em uma academia que não vamos frequentar ou tentar, mais uma vez, parar de fumar. Sem sucesso. Temos os nossos esquemas, nossas redes neurais espalhadas em hábitos que somos impotentes em mudar. Os "Shifters" são situações ou vivências que realmente mudam a nossa situação. Um choque emocional ou cognitivo que realmente chacoalha o coreto e nos coloca em contato com outras formas de pensar ou perceber o mundo. A psicoterapia busca, sem dúvida, criar uma situação psíquica propícia ao "shifter", à mudança de nossos velhos esquemas e dependências em outros esquemas, mais amplos, mais autõnomos, mais maduros. É o mesmo efeito que as pesquisas com os tais cogumelos estão visando. Isso significa que vou plantar cogumelos no jardim de casa e usar em psicoterapia? Não. Não é isso. Isso significa que um bom terapeuta deve estar atento a toda oportunidade em que os velhos esquemas mentais são chacoalhados por um shifter, para libertar os pacientes de seus velhíssimos medos e suas velhíssimas dependências.

2 comentários:

  1. Pensei um pouco sobre o que eu poderia dizer neste post seu Marco Antonio, de como produzir mudança significativa sobre padrões de vivenciar e viver a vida em forma de coagulatio... fiz uma relação com o Arquétipo de Jonas que Jean-Yves Leloup descreve no livro "Caminhos de Realização"- dos medos do eu ao mergulho do ser.
    Jonas: é o arquétipo do homem deitado, adormecido, do homem que não quer se levantar e não quer cumprir missão alguma, o homem que foge de sua palavra interior, que foge da presença do Self interior, e as consequências desta fuga vai provocar-lhe um certo número de problemas no exterior dele mesmo. Os tão falados "Nós" que aqui foi comentado algumas vezes, os redemoinhos que nós não aceitamos em nosso inconsciente, projetam-se para fora de nós, "a nossa culpa", de uma certa maneira que nós projetamos nos outros...Não ser você mesmo, não escutar o seu desejo mais profundo, acarretará consequências sobre o outro.
    Para buscarmos o alívio de nosso sofrimento há um certo número de remédios, drogas que não apenas nos aliviam a dor, mas que nos aliviam, também nossa consciência...mas o efeito colateral do remédio é de curta duração, e rapidamente estamos numa nova busca de algo mais potente para anestesiar o que nos incomoda, o que tememos.
    Como Jonas, somos pessoas que queremos continuar na repetição, permanecer no conhecido, por temermos o desconhecido.
    Leloup lembra-nos , que o homem evolui através do desejo e do medo, medo e desejo estão ligados. O medo superado, o desejo não bloqueado, vão permitir a evolução. A vida passa sobre esta escada do desejo e do medo, não paramos de subir e descer, e seria interessante verificarmos quais são as nossas fixações, quais são os nós, porque desta forma o terapeuta, na escuta daquele a quem ele acompanha, poderá voltar ao ponto, ao nó onde houve o bloqueio, nesse processo o terapeuta está ali para nos ensinar a não termos medo do medo, nos levar ao entendimento de que o medo é um instrumento para nossa evolução, e descobrir o nosso desejo de viver que se esconde atrás desse medo.

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  2. Creio que Shifters podem ser tanto oportunidades positivas, coisas que projetamos, desejamos, que nos causa boa surpresa, ou eventos compulsórios.
    Muitas vezes, algo que mexe profundamente conosco não é nada positivo e nem estamos procurando por isso, mas aparece em nossas vidas como uma bela bomba estourando e mexendo com tudo o que temos ou somos.
    E então , pode se iniciar uma jornada.
    Uma mudança de rumo, na nova jornada. E por que não também, mudança de crenças e de tudo o que parece fazer mal?
    Interessante...pois a vida de cada um de nós mais parece uma caixa de surpresas, onde teremos experiências de vários teores, sacudindo mesmo!!!
    Bem, trata-se de uma jornada.De uma oportunidade.Há caminho.
    Mas a hora de cada acontecimento parece estar certa.
    Estejamos atentos.E abertos para mudar ... ter prazer em abraçar o novo!!! Sentir a vida insuflar energia nova bem dentro de nossos pulmões!!! Ter coragem!!!

    Abraços,
    Sonia

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