terça-feira, 13 de março de 2012

Conexão Mente Alma

Outro dia ouvi na rádio CBN, fiel companheira nesses tempos de Raposo Tavares intransponível, um estudo relatado por Gilberto Dilmerstein (espero que a grafia esteja correta) sobre um estudo em que eram relatadas uma eficácia espantosa do tratamento de Alccolismo com o uso de uma droga alucinógena, o LSD. Os resultados eram estranhos aos próprios pesquisadores. O fato é que muita gente conseguia abandonar definitivamente uma droga devastadora, o Álcool, fazendo uso de outra droga devastadora, o LSD. Isso significa que os pacientes trocaram uma droga pela outra? Claro que não, embora essa seja ás vezes uma estratégia de tratamento como outra qualquer. O fato é que o articulista deu o dado bruto e ninguém para tentar entender o que acontecia. Uma coisa nada incomum em pesquisas clínicas.
Até um pouco depois dos meados dos anos 60 houve uma vigorosa pesquisa de modificações na Consciência e nas terapias com o uso de drogas lisérgicas. Os pesquisadores entraram em desgraça, alguns foram presos, pela interpretação das autoridades satanizando os pesquisadores e sua pesquisa. Botaram uma tranca nos laboratórios e a pesquisa foi abandonada. Fico feliz em saber que as mesmas estão sendo retomadas mediante rigorosos controles e protocolos. Mas por que essa droga, associada a graves casos de dependência, mortes acidentais e quadros alucinatórios pode transformar um ser humano?
Estamos mergulhados em uma rede de programações. Não sabemos disso, mas o nosso Sistema de Crenças ajuda todos os dias a coproduzir a nossa realidade. Eu costumava dizer em aula que cada paciente vem ao consultório com um crachá: um é o “Bacana”, outra é a “Coitada”, um terceiro é o “Injustiçado”. Esses crachás psíquicos tem a ver com o nosso Sistema de Crenças, que se nos é imposto pela nossa família e nosso grupo social. Somos parte da engrenagem de crenças e nela desempenhamos nossos papéis. Para quem não consegue definir, nunca, para o que serve uma Psicoterapia, aí vai um “uso” inequívoco: uma psicoterapia serve para você se livrar de um crachá, seja ele positivo (raramente) ou negativo. Olhar, refletir, compreender as projeções e as imposições de Crenças, criar o seu próprio sistema e comandar a própria vida são alguns dos objetivos de qualquer processo terapêutico (espero).
Em nossa prática clínica, talvez os piores crachás fiquem para os Dependentes de Substância, seja ela o Álcool ou outras substâncias químicas. “Traste!”, “Ébrio”, “Farrapo Humano”, tudo isso vem escrito com letras invisíveis em seus crachás existenciais. Mais difícil do que largar a substância é largar essa falsa identidade, transmitida no decorrer dos anos na psique familiar e coletiva. Quanto mais profunda a ferida, mais igualmente profunda é essa identificação. É por isso que são os casos mais difíceis de se tratar, com um índice de cura de menos de 30%.
O trabalhos da Psicoterapia e do LSD talvez não sejam tão diferentes: cavar até as regiões mais profundas, causar um salto de consciência em que o paciente finalmente se liberte das falsas identificações. Pode demorar mais ou menos, e normalmente demora, mas se o terapeuta souber o que está fazendo (nem sempre sabe), o salto de consciência pode ocorrer e com ele, a cura. Podemos fazer isso no dia a dia da clínica. Sem a necessidade de nenhuma droga adicional.

3 comentários:

  1. Dr. Marco.
    Sobre esse assunto, conecção mente corpo:

    Quando há intercessões - orações pela cura de alguém - pode-se estar falando dos mecanismos cerebrais de controle da cura do outro?
    Li algo sobre o nervo vago que liga o cérebro ao abdômem (!) ser responsável por esse fenômeno. Mas não conheço o mecanismo de ação.
    Não tenho dúvidas que resultados podem ser positivos em determinadas situações.
    Agradeço sua atenção.

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    1. Não sei se entendi direito a questão. Orações intercessoras e seu efeito na cura é um assunto, e uma linha de pesquisa. O estímulo do Nervo Vago para a cura de diversos quadros psiquiátricos, sobretudo as depressões refratárias ao tratamento, é outra linha. Vc pode desenvolver melhor a sua dúvida?

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  2. Então, as duas coisas: li um comentário que dizia de estudos que reunem os dois fenômenos - (?!!!).
    De qualquer modo, se pudermos falar sobre como a intercessão afeta o outro será muito interessante.
    Obrigada.

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