quarta-feira, 7 de março de 2012

Estado de Sítio

Hoje estava ouvindo uma história de um condomínio onde as pessoas estavam andando na garagem com uma velocidade inadequada. Feita a reclamação, da parte das pessoas com filhos pequenos, o síndico colocou tartarugas nas passagens, tentando conter os apressadinhos. Ledo engano. Os pilotos de garagem passaram a correr pelos boxes desocupados. Uma moradora abriu a porta para a filha descer e foi chamar o elevador. Por uma fração de segundo a menina não foi atropelada por uma moça cortando entre os espaços vazios. Uma fração de segundo.
Nesses dias que a cidade de São Paulo está sitiada pelo novo ataque do PCC, digo, dos motoristas de caminhão autônomos, observamos a nossa humanidade se esvaindo. A queda de braço entre o prefeito Kassab e os caminhoneiros esconde a face perversa da civilização autoestima, onde voltamos a usar nossos Cérebros Neandertais para acelerar, cortar, xingar nas ruas de São Paulo transformada pela barbárie.
As verbas do Metrô repousam intactas em alguma brecha de orçamento, provavelmente rendendo juros para eleições que se aproximam, enquanto que os caminhoneiros recusam a penalização da prefeitura em favor do transporte individual, dos carros que hoje são piores do que a indústria do tabaco em termos de violência, morte e invalidez parcial e permanente. A queda de braço colocou a cidade em Estado de Sítio.
Vamos sendo brutalizados pelos espaços exíguos, pela falta de planejamento ou de norte para tentar lidar com a situação. Pelo contrário, as montadoras continuam vindo para o Brasil, milhares de carros novos são postos em circulação todo dia e o povo, com uma psique bovina, vai se apertando mais e mais. Cada dia mais.
O estresse rouba das pessoas a sua natureza humana. Não duvido que a senhora que quase atropelou uma menina de dois anos, ou o garoto que matou uma menina de três anos com seu jet ski, não duvido que sejam pessoas de bem, que amem as suas famílias e não queriam, em hipótese nenhuma, transformar seu veículo em arma letal. Mas a sensação de aperto, de pressa, de frustração pode transformarnos, todo o dia, em bestas e feras. Como o trânsito de São Paulo e a ameaça de falta de gasolina podem também provocar. Precisamos do estabelecimento de zonas de reflexão e de diálogo. Urgentíssimamente.

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