quinta-feira, 17 de maio de 2012

Forrest Gump e os Ciclos da Vida

Atenção aos leitores dessas mal tecladas, sobretudo as pessoas que o enriquecem com seus comentários e torcida: eu sei que não respondo aos mesmos de uma forma sistematizada, mas postei resposta nos últimos três posts. Vou tentar manter a conduta, mas vai depender da semana de trabalho. Obrigado por eles.
Estava contando um "causo" numa sessão de hoje mesmo, de uma reportagem que vi na Folha de São Paulo há uns poucos anos. A reportagem retratava o fechamento de um tradicional restaurante chinês, nos Jardins, que ficava em frente ao Parque Trianon, perto da Alameda Santos. Era o segundo restaurante chinês fundado na cidade e estava sendo fechado por conta da especulação imobiliária, os altos preços dos aluguéis da região. Algum tempo depois, o Cine Belas Artes também foi vítima do mesmo processo de despejo, também com cobertura da mídia. A repórter, uma jovem e bem intencionada moça, chegou-se em tom de lamentação para a dona do restaurante, uma senhora já idosa e chinesa, que mal falava o Português e comentou que aquilo era uma grande pena, um país que se desfaz de sua memória, que deixa um restaurante daqueles se fechar, que absurdo, etc, etc, etc. A vovozinha chinesa olhou para ela com uma certa estranheza e falou, cheia de sotaque: "Minha filha, a vida é feita de ciclos, acabou esse, vamos para o próximo. Vamos abrir um restaurante lá na Liberdade, que o aluguel é mais barato...". Isso me lembra uma cena de "Forrest Gump" em que ele está treinando pin pong, pois ficou um craque no esporte depois de ser ferido no Vietnã, quando um mensageiro do Exército chega com uma carta avisando que ele estava sendo dispensado do Serviço Militar. Ele sai correndo imediatamente da sala de jogos. Forrest Gump não estava infeliz nem incomodado com a vida militar. Mas encerrou o seu ciclo correndo como um velocista até a próxima fase.
Há alguns anos eu escrevi um texto da Vovó sobre esse filme, "A Pena de Forrest Gump", que está no www.marcospinelli.com.br para quem quiser ler. Adoro esse filme, que é uma patriotada bobalhóide americana, mas também um filme quase taoísta sobre um olhar de simplicidade sobre a vida. A nossa capacidade de reflexão é uma benção evolutiva, mas também pode nos manter por anos em ciclos que não conseguimos encerrar, ou pior, não conseguimos, como Forrest Gump, sair voando até a próxima fase, o próximo ciclo. Quando a idade vai chegando, temos ainda a sensação de que não vai haver mais oportunidade. É muito angustiante ver as pessoas paradas, esperando que alguma coisa aconteça, ou que algum super herói entre voando pela janela para salvar o dia.
Gosto de pensar naquelas senhoras chinesas enrolando rolinhos primavera numa casa mais humilde mas com aquele cheiro gostoso da comida chinesa no ar, vivendo cada fase de suas vidas sem lamentação e sem livros de autoajuda.

2 comentários:

  1. Quando jovens não pensam, como Buda, que em nós já habita nossa futura velhice(Simone de Beauvoi).

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  2. As pessoas procuram sempre a estabilidade (no emprego, nas relações familiares e de amigos). O novo e a mudança sempre geram muita ansiedade e muitas vezes, sofrimento, principalmente quando se é mais velho.
    Esta senhora chinesa tem muito a ensinar....
    Bjos,
    Lúcia Andrade

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