segunda-feira, 28 de maio de 2012

Profissão de Fé

Vivemos em uma época de excessos. A Consciência Coletiva nos empurra para isso, para depois vender os antídotos. As pessoas são estimuladas à Atenção Difusa. Prestamos atenção à tudo e à nada, ao mesmo tempo. Não podemos abrir uma página de computador sem recebermos dezenas de mensagens publicitárias e de Pop Ups saltando na tela.
Uma queixa frequente no consultório é que os medicamentos interferem com a Memória, deixando as pessoas mais dispersas e esquecidas. Reclamam disso enquanto conseguem relatar, com precisão, tudo o que aconteceu no período que antecedeu à consulta. Não são lapsos de Memória, mas de Atenção. Os medicamentos, diminuindo a ansiedade, interferem também na capacidade de Concentração, tornando-a ainda mais difusa; a piora da memória e os pequenos esquecimentos são apenas uma derivação desse mecanismo. O sintoma pode melhorar se a pessoa treinar uma Atenção Profunda. Seria isso possível?
A Medicina Chinesa diria que vivemos uma época de excesso de Yang, excesso da energia masculina ou do modo masculino de vermos o mundo. Jesus foi ao deserto e jejuou por 40 dias para encontrar o Caminho. Foi tentado pelo Demônio de três maneiras: primeiro pela fome, sugerindo que transformasse as pedras em pães; Jesus afirmou que poderia se alimentar diretamente da Energia. O Demônio ofereceu para o nazareno o poder sobre o mundo da matéria, todo o seu reino terrestre; Jesus respondeu que aquilo não era poder de verdade. Finalmente, o Inimigo propôs que ele se atirasse do penhasco que os anjos o salvariam; Jesus respondeu que não se deve colocar o Princípio Divino sob teste, nem dar ordens a ele, pois não O comandamos.
Os excessos de masculino nos colocam dentro dessas três tentações, o tempo todo. O domínio sobre a fome, através da alimentação industrializada, produzida em alta escala; o domínio sobre o Outro, através da escravização do consumo;finalmente, queremos dominar o princípio da criação através da manipulação do DNA.
Corremos atrás de consumo e de fetiches. Somos envolvidos na correria. Os cansados e exauridos terminam nos consultórios. Uma Medicina burra busca apenas remendar os feridos e devolvê-los à corrida cega. Uma Medicina mais profunda aproveita o pit stop para devolver ao paciente a sua capacidade de reflexão e de busca de sentido. O medicamento bem utilizado não busca a supressão pura e simples dos sintomas, mas a escuta do seu significado simbólico, como se a doença fosse uma mensagem dos Deuses que denunciam os excessos de Yang e de superfície.
Uma Medicina verdadeira é uma Medicina da Profundidade.

2 comentários:

  1. Também fico preocupada que com essa corria toda, Esse excesso de Yang, o humano em nós vá desaparecendo. Vamos nos constituindo para o trabalho, e não para o com-viver. O mundo dos adultos se mistura ao das crianças e vice versa. Adultos são irresponsáveis, imaturos e as crianças tornam-se repletas de horários e tarefas para cumprir. Não sobra tempo para ocupar as conversadeiras na varanda da casa. Os tempos estão confusos hoje. Sem equilíbrio e sem sentido pessoal.

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  2. Obrigado pelo comentário. São tempos de excesso, mesmo. Abç

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