quinta-feira, 24 de maio de 2012

O Destruidor de Castelos

Um dos vários livros que estou lendo simultaneamente é sobre a biografia de um homem que trabalhou toda sua vida com cavalos e desenvolveu uma capacidade impressionante de se comunicar e adestrar os bichos. Desenvolveu até uma linguagem para isso, que chamou de Equus. Monty, o encantador de cavalos, recebeu em determinada época de sua vida uma proposta de um homem muito rico e influente, para administrar sua fazenda e cuidar de seus cavalos, que gostaria que participasse de competições de adestramento. Como esse cara já havia aprontado com Monty uma vez, sumindo depois de fazer uma proposta igualmente irrecusável, o cowboy pensou, ou intuiu, que era melhor recusar a proposta. O velho milionário confessou que era um portador da Doença Bipolar e autorizou-o a conversar com seu próprio psiquiatra, para esclarecer a situação. Ainda a contragosto, foi falar com o tal médico, que descreveu o seu paciente como um portador da "Síndrome do Destruidor de Castelos". Mas o que seria isso? Ele respondeu que o quadro é como o de uma criança que gosta de levantar um castelo na praia. Quando ele está alto e bonito, a criança pode ir fazer outra coisa e deixar a sua "obra" por lá, para a admiração das pessoas, até que as ondas o levem. Mas algumas crianças não conseguem resistir à tentação de derrubar o castelo com chutes e voadoras. Não conseguem conter esse impulso agressivo. Estava pensando nisso quando cheguei ao consultório e vi a ficha de uma pessoa que levou a família toda a psiquiatras. Os pais, o filho, ela própria. Nenhum tratamento vingou. Todos os trabalhos foram interrompidos diante das primeiras dificuldades. Bem, mas voltando a Monty, apesar do alerta do psiquiatra, que se contorceu nas fronteiras da Ética Médica para alertá-lo, não resistiu ao apelo da oportunidade e foi trabalhar com o Destruidor de Castelos. No início, teve sucesso, ganhou várias provas e adestrou vários cavalos, até que um dia parou de fazer contato com o seu patrão. Soube que o homem estava com um quadro depressivo importante, que teve como um dos desencadeantes a derrota em uma prova de seu cavalo favorito. A situação esquisita ficou aterradora quando recebeu a visita do advogado do homem, com a ordem de vender a maior parte dos cavalos e matar, isso mesmo, sacrificar um casal de procriadores e o tal cavalo que havia perdido a prova. Monty fingiu concordar, vendeu vários cavalos, doou outros, mas obviamente que não conseguiu matar nenhum dos bichos. Vendeu-os para si mesmo e mandou-os escondidos para outros criadores da região. Quando o capataz do homem perguntou se ele executara o serviço, disse que sim. Alguns meses depois foi preso, quando os asseclas do homem descobriram o que ele fizera. Foi preso acusado de ter roubado o cavalo que ele salvara. O homem era rico e com boa equipe de advogados. Monty precisou do apoio de seus amigos, de sua comunidade e da Imprensa local para inverter as acusações e reestabelecer a verdade. Ganhou a tal fazenda no processo, mas o preço foi alto. Sobretudo, o preço de não ter ouvido a sua própria intuição logo de início, dizendo não para a proposta aparentemente irrecusável.Já escrevi alguns posts tecendo críticas mais ou menos bem humoradas ao presidente do glorioso São Paulo Futebol Clube, Juvenal Juvêncio, ou seu Jujú. Juvenal está padecendo nos últimos anos dessa Síndrome do Destruidor de Castelos. Lembro muito bem de um Campeonato Brasileiro em que todos, eu inclusive, clamávamos pela demissão de Muricy Ramalho, o técnico hoje mais do que consagrado e às portas de assumir a seleção brasileira. Jujú bancou o Muricy diante de toda pressão, e estava certo; o resto, eu inclusive, estavam errados. De alguns anos para cá, entretanto, Juvenal tornou-se o destruidor de castelos: monta bons elencos, técnicos mais ou menos adequados e, quando os resultados não vem, demite o técnico, joga fora jogadores promissores, começa tudo de novo, para repetir o ciclo de novo. É como um cozinheiro que abre o forno antes do bolo estar pronto, por falta de feeling,de paciência, de entendimento do Tempo das Coisas. Como todo comandante autocrático e autoritário, termina seu mandato só e cercado de áulicos. Enquanto isso, o Corinthians manteve a sua Comissão Técnica e o respeito pelas pessoas. É só comparar os resultados.

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