domingo, 6 de maio de 2012

O Amor em Tempos de Facebook II

Hoje terminou um Congresso que eu muito curto (verbo bom de se usar em textos sobre o Facebook), que é o Congresso de Cérebro, Comportamento e Emoções, na sua oitava edição, infelizmente a primeira realizada em Sampa. Antes era em Gramado, mas a gauchada resolveu invadir o nosso planalto com pesquisa de boa qualidade e convidados internacionais. O resultado foi legal, pois eles procuram um formato pluralista, com espaço para psiquiatras, neurocientistas, biólogos, educadores, neurologistas, neurocirurgiões, cada tribo em suas salas e eu, claro, pulando de galho em galho e indo espionar as aulas dos caras. Para quem está acostumado aos sonolentos e mauricinhos congressos tradicionais, esse vem em boa hora. O título desse post deve-se aos primeiros estudos que se estão fazendo sobre os efeitos das redes sociais na plasticidade cerebral. Já começam a haver casos descritos de dependências e uso compulsivo de redes sociais. Uma amiga dispensou o namorado postando o fora no Facebook, dizendo que era o único jeito de prender a sua atenção por alguns segundos. O pesquisador também colocou o vídeo de uma mulher que derrubou uma loja com seu carro depois que o marido, injuriado por uma briga, mudou o seu status para "solteiro" na Rede Social. Outro dados mostram que os adolescentes e adultos jovens estão deixando de utilizar o seu e-mail pessoal e resolvendo tudo nas redes sociais. A boa notícia é que as estruturas do Cérebro Social ficam mais ativadas e desenvolvidas nas pessoas que tem muitos amigos adicionados, como mostram os estudos de Neuroimagem Funcional. Os tweets também aumentam a atividade dessas regiões. Tweets de amor ativam as áreas do prazer. Mas é claro que há o outro lado da moeda. Há uma verdadeira epidemia de narcisismo, de troca das relações de carne e osso, hoje perto do desuso, em detrimento da vida e da imagem perfeita e narcísica que pode ser postada no mundo virtual. Outro dia atendi uma velha senhora que estava embananada com seu namorado virtual. O moço, apaixonadíssimo, queria marcar um encontro com a sua amada e não aguentava mais as suas evasivas. A senhora em questão tinha mais de setenta anos e postara as fotos de sua filha, na época em que a moça tinha trinta e poucos anos. o homem, apaixonado pelas imagens, implorava para deixar o relacionamento virtual para consumar a paixão real. A senhora não tinha coragem de mencionar a verdade, depois de tanto tempo de mentira. Colocou em dúvida se o amor do seu Romeu virtual seria correspondido aqui em São Paulo, o cara se encheu de brios. Brigaram, romperam o seu relacionamento inexistente. Ao psiquiatra restou a tarefa de limpar a sujeira e enxugar as lágrimas, Se já não bastasse todas as formas que uma pessoa tem para se sentir esnobada e excluída, agora vamos ter que lidar com foras e corações partidos na Web. E as pessoas ainda me perguntam por que tem tanta gente tomando medicamentos para a Depressão e a Ansiedade em nosso mundo atual.

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