domingo, 20 de maio de 2012

O Cisne e o Fluxo

Estava vendo a final da Champions League ontem na TV com meu filho. Bom programa para uma tarde fria de Outono, debaixo do edredon. Mais uma vez pude notar como faz falta uma boa Psicologia Esportiva no mundo. O Bayern de Munique estava com a faca e o queijo nas mãos: jogava em casa, diante de sua torcida, depois de ter eliminado na raça um time muito melhor, o Real Madrid, na semifinal. O seu adversário, o Chelsea, é um time envelhecido e perto do desmanche, que chegou na final meio por acaso. O Bayern teve o jogo na mão várias vezes. Marcou um gol no final do segundo tempo. A alegria dos jogadores demonstrava que eles sentiam naquele gol que eram campeões. Conseguiram tomar o empate cinco minutos depois. Foi para a prorrogação, teve um pênalti logo no início. Robben perdeu. Depois, na disputa de pênaltis, saíram na frente e perderam os últimos dois pênaltis, os decisivos. Outro fator estranho é a quantidade de pênaltis que os craques do time perderam nessa fase final: Messi, Cristiano Ronaldo, Robben, os craques, os caras idolatrados e de quem todos esperam, erraram cobranças decisivas. Já mencionei isso em outros posts: onde está a maior expectativa, lá estará a tremedeira. É uma coisa a se pensar a dois anos da Copa do Mundo, que será realizada no Brasil. Mas como enfrentar os estados de congelamento que acometem as pessoas na pior hora? O filme que deu o Oscar para Natalie Portman, Cisne Negro mostra esse processo massacrante de expectativas, levando a personagem principal a uma quebra psicótica. Tudo pressiona uma jovem bailarina que vai dançar os dois papéis principais do "Lago dos Cisnes": a mãe invasiva, que "abandonou tudo pela carreira de sua filha", o diretor do balé, que "apostou tudo na jovem e inexperiente bailarina", além de molestá-la sexualmente entre um e outro movimento. A ambiciosa colega, que a trata com amizade mas se prepara para substituí-la em caso de tremedeira. A dúvida e o medo vão dissolvendo a fronteira da realidade e da alucinação, a bailarina vai sendo torturada pelas expectativas e a ameaça de substituição até a hora da apresentação, quando ela assume a sua posição meio na marra. Após o início hesitante, com erros graves e uma queda, a personagem, quando faz a parte do Cisne Negro, entra num estado de quase possessão. Ela incorpora a personagem e atinge o estado de perfeição que, conscientemente ou não, sempre buscamos. É um estado que a Neurociência chama de "Estados de Fluxo", um momento em que o Cérebro atinge um estado de absoluta concentração, como se nada existisse à sua volta, apenas o objeto dessa concentração. A cena final do Cisne Negro mostra a jovem bailarina entrando em Fluxo com a dança e incorporando completamente a personagem, até o final trágico, meio forçado. Atenção, senhores psicólogos do esporte e psicoterapeutas em geral: o contrário do medo e do estresse não é o relaxamento, nem a supressão dos sintomas. Devemos pesquisar e ampliar nas tarefas que exigem bom desempenho e superar a dúvida e a sensação de desmerecimento com os estados de concentração intensa e compartilhada nas tarefas. Isso deve ajudar muito na hora de bater os pênaltis da vida. O contrário do Medo é a Concentração. Se possível, uma hiperconcentração, em Fluxo.

Um comentário:

  1. Temos muitos exemplos , em diversas culturas , mostrando os resultados positivos da concentração, do foco nas atitudes, metas, etc.
    Muito bom, dr.!
    Quantas vezes no dia a dia usamos de coragem, no lugar da concentração e tantas delas os resultados não são os desejados.
    Concentração.
    Ficou a dica!!
    Obrigada,
    Abraço

    Sonia

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