quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Big Brother e a Biruta

A minha carreira como palpiteiro de Big Brother começou muito mal. Gostei de uma loirona perua, Fabiana, que eu achei que estava se posicionando bem no jogo. Como é mais velha que o grupo, ocupou o lugar metafórico de mãe, embora seus decotes e vestidos sugiram outro tipo de metáfora. Nas poucas vezes em que assisti a edição da noite com meu filho, achei que ela falava com o coração, criando empatia com o público e o grupo. Julgamento prematuro. Ontem ela salvou-se do Paredão com um cara que meu filho curtia, Ronaldo. Deu um espetáculo de comemoração brega e solitária, gritando que a ”a voz do povo é a voz de Deus”. O grupo não participou da sua euforia e já sabe que ela não fala com o coração. Mas ela continuou gritando sobre a voz do povo. Isso me lembrou uma passagem de Nelson Rodrigues. Eu sei que misturar Nelson Rodrigues com Big Brother é esquizofrenia cultural, mas paciência.
Nelson Rodrigues era filho de um proprietário de jornal, Mário Rodrigues, nas primeiras décadas do século passado. O jornalismo era uma espécie de linchamento injurioso de oponentes e criação romanceada de falsos dramas. Bem, isso não mudou muito desde então. Para uma notícia de um incêndio de uma casa antiga no centro, o repórter inventava um rouxinol, cantando na sua gaiola até ser consumido pelas chamas. Ninguém imaginava que era pouco provável um rouxinol cantar no meio de um incêndio. Dentro desse espírito de folhetim, o jornal de Mário Rodrigues acusou sem provas uma senhora da sociedade de adultério. Provavelmente, com razão. O fato é que a mulher foi até o jornal procurar pelo dono, não o encontrou. Perguntou pelo seu filho mais velho, não estava. O segundo filho estava, e tomou um tiro à queima roupa no abdômen, ferimento letal na época. Morreu dois dias depois. O julgamento foi alguns meses depois, a mulher foi absolvida e carregada nos braços pela opinião pública, que apoiou a lavagem de sua honra em sangue. O jovem Nelson pensou que a Opinião Pública é completamente louca. Pois é, Fabiana. A voz do povo não é a voz de Deus. Ela muda de direção como uma biruta soprada pelo vento, para cá e para lá.
As pessoas que se dispõe a serem expostas em seus medos e seus ridículos nos Reality(?) Shows perdem uma importante perspectiva: o teatro que estão encenando não é para ganhar apoio de seu grupo, fazer conchavos e combinar votos. O fiel da balança é a biruta da opinião pública, virando para um lado e outro toda semana. Ronaldo é estrategista, boa pinta, tinha liderança dentro do grupo. Perdeu-se quando, ferido, atacou quem votara nele, acusando-os de “fazer conchavos” (sobre o que é o jogo, afinal, boas intenções?) e, pior, acusou Fabiana de se esconder atrás de seu filho. Ela retrucou que ele não tem idéia do que é um amor incondicional. Pronto. Ele estava ferido de morte. Saiu um bom candidato, sem entender que o seu diálogo não era com o grupo adversário, nem com a loura teatral, mas com os olhares ocultos além das câmeras.
Estou começando a entender melhor a brincadeira, sem o nariz torcido da classe média alta ou a empáfia dos intelectuais. Mas não faço previsões. Só imagino que ganha quem lembrar que o olhar que vale é de quem não tem voz, que é o povo.

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