quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Os Memes e os Complexos

A obra de Jung trouxe algumas contribuições para o nosso senso comum, com palavras que hoje fazem parte de nossa vida diária. Uma delas é o Complexo, definido como uma série de imagens, emoções e lembranças vinculadas a um determinado tema, ou idéia, ou Meme, que produz alterações em nosso comportamento e em nossas emoções.
Ontem foi comemorado o “Valentine’s Day”, o dia dos namorados americano. É tema de muitas comédias românticas, geralmente mostrando as moças sem namorado devorando caixas e caixas de chocolates pela falta de namorado e, mais do que isso, pelo sentimento de exclusão do Dia dos Namorados. O tema vira um Complexo, uma série de lembranças e associações com a presença ou ausência de namorados. Parece brincadeira, mas as datas que lembram ou tocam em complexos envolvendo solidão e exclusão são as mais perigosas para o risco suicida. São datas tensas para os psiquiatras.
Os Complexos de Jung estão dando lugar aos Memes. Memes, como eu já descrevi no post anterior, são imprintings de idéias que passam a ter vida própria e tentam de tudo para serem transmitidas, como vírus se espalhando pela mídia. Recentemente, um comercial de uma família, acho que alagoana, onde todos da família tinham amado determinado lançamento, menos a sua filha, que estava no Canadá. “Menos Luísa, que está no Canadá” virou hit do Twitter, notícia de jornal e transformou Luísa numa celebridade instantânea, apenas pelo humor involuntário do comercial meio jeca. Isso é um Meme.
Os Complexos se escondem em nosso Inconsciente, para comandar nossos atos mais do que gostaríamos. Os Memes lutam para serem propagados, replicados, considerados pelo maior número de pessoas. As dores, as tristezas, as micro frases que instalamos em nossos Twitters familiares, ou profissionais, podem causar muito estrago. Ambientes tóxicos produzem imprintings definitivos e feridas profundas. Um casal que se odeia, ou uma mãe que convoca as filhas para a sua guerra particular contra o marido, tudo isso pode plantar Memes de sofrimento e de angústia, que vão se manifestar na vida amorosa de suas filhas depois de décadas. Engraçado que temos uma cultura que tenta obsessivamente evitar o sofrimento e criar alegrias fugazes, mas não tomamos a medida óbvia de cultivar a gratidão pela vida em si. Acompanho alguns pacientes que superaram doenças oncológicas e situações de risco para a própria vida. Após a jornada de cura, conseguem encontrar a alegria da vida em si, do simples fato, milagroso, de acordar e testemunhar a Vida.
Podemos, é uma possibilidade e uma opção, transmitir os Memes de gratidão e elaborar os Complexos, em vez de vomitá-los nos outros.

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