quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ok, Você venceu, Big Brother

Devo confessar de público que, depois de doze edições, estou finalmente assistindo o Big Brother. Sempre achei que fosse meio que uma tarefa obrigatória, já que os personagens ficam desfilando nas sessões e eu estou sempre por fora do assunto. Ontem ouvi uma longa explanação sobre como uma cliente gosta de Laisa, a gauchinha porreta, por sua personalidade decidida, etc, etc... Hoje já sei quem é Laisa e como deu um belíssimo pé na bunda de seu bombado ficante, Yuri, em cadeia nacional. Veja só, Big Brother também é cultura. Ontem acompanhei o texto chatérrimo de Pedro Bial sobre a evolução dos hominídeos e seus nomes, do Homo sapiens ao Homo ludens, para concluir que a gorduchinha (parecida com a Welma do Scooby Doo), Mayra, estava sendo excluída com 74% dos votos, pois havia parado de jogar. E quem para de jogar, morre. Lindo, filosófico. O que foi estranho é que durante a votação eles fizeram algumas vinhetas destacando cenas do oponente, Fael, sua simplicidade, sua caipirice, sua generosidade com o amigo. Na sala da "casa mais vigiada do país", Mayra estava com um vestido que a fazia ficar parecida com um bombom Sonho de Valsa, enquanto Fael estava ao lado dos amigos, com um vistoso chapéu de caubói. Não precisa ser psicoterapeuta nem antropólogo para saber quem iria ganhar. O Brasil inteiro votaria com o caubói, inclusive com a cena registrada no Inconsciente Coletivo de outro caubói, que ganhou o jogo há poucos anos. Mas não deixo de registrar que Welma, digo, Mayra, foi operada ontem, sem anestesia.
Quando eu fazia Residência, nos anos 90, lembro de um projeto, muito legal de que participei, no setor de Psicoterapia. O problema é que uma das coordenadoras tinha acabado de chegar de uma pós no exterior e estava empolgada com a idéia de filmar as sessões, para embasar melhor a pesquisa. O futuro junguiano que aqui vos tecla deu cinco pulos na cadeira: se for filmado, não é mais psicoterapia. O grupo me olhou com aquela cara de "fazem isso nos Estados Unidos e na Europa e vem um psiquiatrazinho tupiniquim usando fraldas dizer que está errado". Mas é claro que está errado. Se o paciente está diante da câmera, não está mais se dirigindo ao terapeuta, nem a si mesmo. Ele está falando com o mundo espreitando naquela lente. O terapeuta não está mais ouvindo e criando um campo psíquico acolhedor, está desempenhando o papel de terapeuta compenetrado e cheio de habilidades, para os seus pares que vão farejar cada inflexão de voz "errada". Ou seja, deixa de ser um encontro analítico para virar um Big Brother, um show, um encontro humano de plástico. Felizmente para mim, consegui participar do projeto sem a tal câmera, que não fez nenhuma falta.
Comecei a acompanhar essa pantomima por conta de meu filho, que esse ano tomou coragem e assumiu, diante de toda a família, que adora o BBB. Assisto os resumos com ele, o que é uma delícia. Daqui a pouco tempo ele não vai querer o pai assistindo nada do lado dele, então aproveito. Ele aguenta os meus comentários na medida do possível, só me manda calar a boca algumas vezes. Ontem eu expliquei que a morena estonteante, a Laisa, fica fazendo a sua dancinha matinal, com a sua calcinha de renda cavadíssima, olhando o espelho, não por ser uma narcisista irremediável, mas já está criando uma marca que será explorada em alguns meses em uma edição da Playboy. Há pouca ou nenhuma sinceridade naquilo. Aliás, se adotarmos o critério do Pedro Bial, de eliminar quem não está jogando, então é melhor fazer um paredão gigante e mandar todo mundo para casa. Todos estão com o breque de mão puxado, sem se arriscar, sem se queimar, tentando parecer os mais legais e sinceros possíveis.
Conflitos de plástico, intrigas mornas e troca humana zero.
Vou fazer a minha aposta, mesmo sendo um novato em BBBs: quem vai ganhar é a loura, um pouco mais velha, acho que seu nome é Fabiana. Ela é afetiva, carinhosa, já chamou para si a personagem/arquétipo de mãe da casa e quando fala e se coloca, sempre o faz com o coração. Chora com quem está saindo, vibra com o grupo e não arruma encrenca. É a mais sincera e empática. Só não ganha se todos se unirem para derrubá-la. O meu filho está torcendo pelo Yuri. Façam as suas apostas.

Um comentário:

  1. É uma pena as pessoas terem tanto interesse em programas como este. Talvez, tenham medo de ver e vivenciar(viver e não sobreviver) sua própria vida e fogem de si assistindo algo que faz com que fujam da sua realidade. Parece que a busca das pessoas está mais focada no exterior do que no interior...Queria entender o que é tão interessante fora de nós (BBB)que é capaz de nos "entreter" por meses???? A.M.

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